“A mente que
se abre a uma nova ideia, jamais volta ao original”.
[Albert
Einstein]
Arlindo Nascimento Rocha
A filosofia exige um estudo
contínuo, um ‘investimento a longo prazo’ que depende do nosso empenho e das
nossas reais motivações, uma vez que ela configura-se como um saber
eminentemente teórico. É um empreendimento pessoal que exige muitas horas de
leitura, o domínio da exegese textual e de certos conceitos que nos permite
acessar progressivamente e em grau cada vez mais exigente em termos de
abstração e de formulação de ideias novas a partir do acervo filosófico
universal, e, até mesmo tentar ser original nas nossas colocações.
Portanto, o estudo da Filosofia
exige compreensão e não memorização dos conceitos, dado que os elementos
essenciais da Filosofia são: os problemas, as teorias e os argumentos e os
contra argumentos o que implica uma compreensão com vista à tomada de uma
posição autónoma, radical e de conjunto, por forma a criarmos as condições
necessárias, e, de modo racional, fazermos uma crítica a uma determinada
realidade, sistema, objeto ou situação. É nesse âmbito que reside à atitude
crítica do homem, fazendo o bom uso da razão, isto é, procurando descobrir o
que está velado pelas aparências do cotidiano e ancorados no conhecimento
empírico do senso comum ou pelas dogmas existenciais. O estudo da Filosofia
exige coragem para ir, a fundo, quebrar paradigmas, ser original, atento e
perseverante na busca da verdade e aceitar o desafio da mudança e do
crescimento dialético e intelectual.
Para o senso comum, argumentar é
vencer alguém, forçá-lo a aceitar a nossa verdade. Esta definição é errada! Seja
na escola, na política, no trabalho ou numa simples conversa saber argumentar
é, primeiramente, saber compreender o raciocínio do outro. Argumentar é também
conseguir o que desejamos, mas de uma forma construtiva e num sistema de
conversa, onde devemos sempre ouvir o que o outro tem para dizer. O principal
objetivo da argumentação é passar a nossa verdade para a verdade do outro.
Devido a grande complexidade e o grau
de reflexão e abstração, a grande maioria das pessoas que começam a estudar
filosofia desiste facilmente por considerarem a disciplina cansativa, abstrata
e sem valor prático. No entanto, se analisarmos as razões que nos levam a
estudar e tentar perceber esta antiga disciplina, será mais fácil e menos duro
fazê-lo. Por isso, antes de abordar questões específicas da filosofia,
enfatizarei algumas razões pela qual se considera fundamental para que o estudo
da filosofia seja pelo puro prazer de aprender ou visando fins acadêmicos,
políticos, religioso etc. Assim, analisarei alguns motivos que podem ser
estímulos ao estudo da filosofia, uma vez que o estudo filosófico faculta o
desenvolvimento da capacidade de argumentar, a capacidade crítica, o raciocínio
lógico e melhora o desempenho profissional em qualquer área.
Naturalmente, os seres humanos
sempre valorizaram e cada vez mais a importância da argumentação na vida
cotidiana bem como na vida profissional, seja na academia, na politica ou no
dia-a-dia. Com o estudo sistemático da filosofia aumentamos
consideravelmente a nossa capacidade de reflexão crítica e o nosso poder de
argumentação, sobre vários assuntos, embora saibamos que carregamos um arsenal
epistemológico limitado, por isso, a filosofia nos dá essa responsabilidade
questionadora que nos leva numa aventura ao desconhecido mediante uma investigação
profunda, metódica e isenta através de questões, ou seja, precisamos questionar
o mundo, as pessoas e a nós mesmos para que possamos adequar nossas
argumentações.
A procura do aprimoramento dessa
competência remonta os primórdios da filosofia Grega em que os sofistas,
considerados os mestres da retórica, já faziam o uso desse recurso para
convencer os seus interlocutores sobre a relatividade da verdade factos em
contraponto com o mestre Sócrates que defendia e acreditava numa verdade
universal. Por outro lado, como se sabe, a filosofia não constitui um conjunto
de saberes dogmatizadas e estanques, ela é uma área aberta a novas ideias,
novos conceitos, novos desafios. Assim, essa abertura se traduz numa enormidade
de diferentes formas de pensamento que consequentemente nos proporcionam as
ideias e soluções para os problemas que se nos impõem.
Portanto, para o estudante de
filosofia é necessário uma atitude de investigação, reflexão crítica
incessante valorizando a realidade, pois os filósofos procuram resolver
os problemas que surgem da experiência do dia-a-dia, para depois se aventurar
na procura de soluções cada vez mais abstratas e difíceis de
compreender. Isto acontece porque, se o filósofo não for além dos
conceitos que foram deturpadas pelo senso comum e dos preconceitos
presentes na sociedade, então ele não conseguirá elevar-se a novas
ideias ou novas formas de pensamento.
O estudante de filosofia
necessita de ser uma pessoa aberta a novas ideias e formas de pensar, pois isso
aumentará significativamente o seu capital intelectual. Nesse aspecto a
filosofia é essencial, pois, almeja contribuir para estimular o desenvolvimento
de cidadãos pensantes, reflexivos e críticos. Ao apostar no estudo sistemático
da filosofia independentemente do tema ou assunto, as capacidades críticas de
raciocínio vão sendo treinadas e aprimoradas. Isto acontece porque, ao
analisar cada vez mais questões filosóficas ou enigmas lógicos, o nosso cérebro
vai progressivamente aumentando a sua capacidade crítica. Ou seja, ao longo do
tempo cada indivíduo será bem capaz de colocar questões e encontrar respostas
mais eficazes aos problemas ao invés de se contentar apenas com uma simples
solução baseado no senso comum e em soluções triviais para problemas
inquietantes.
Por outro lado a filosofia também é
uma ferramenta essencial a qualquer profissional que queira desenvolver as suas
habilidades e competências intelectuais e alcançar o sucesso na sua área
profissional. Ao dominar alguns conhecimentos do foro filosófico adquire-se e
melhora-se como orador para grandes públicos que possam, eventualmente,
colocar-lhe questões que não tinha nos seus planos. Com a ajuda da filosofia e
da lógica aprende-se a argumentar corretamente, expressando e justificando
nossas opiniões, bem como provocar a livre adesão dos nossos
interlocutores às nossas ideias mediante argumentos sólidos e válidos.
Assim, podemos organizar racionalmente de forma coerente e congruente
nossos pensamentos e avaliar a validade dos argumentos que nos são
apresentados, contribuindo assim para desenvolver a emancipação, a
autonomia do espírito crítico e reflexivo uma vez que, vivemos em sociedade,
precisamos de comunicar, expor as nossas ideias e defender os nossos pontos de
vista. Se o fizermos com rigor e clareza, tudo se torna mais fácil e
conseguimos fazer com que as nossas ideias sejam melhores compreendidas e
aceites intelectualmente pelos nossos interlocutores.
REFERÊNCIAS
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Bernardette Siqueira. História da
Filosofia. - São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Col. Os Pensadores)
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WEBER,
Max. Ética protestante e o espírito do capitalismo.
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