Antigamente
a administração escolar era fragmentado, ou seja, cada um se responsabilizava
apenas com a sua função, desconhecendo as demais dimensões educativas, a gestão
democrática enfatiza a participação de todos os componentes da escola no
processo educativo. Libâneo (2007, p. 308) afirma que:
Na
maior parte das vezes, a realidade das escolas ainda é de isolamento do
professor. Sua responsabilidade começa e termina em sala de aula. A mudança
dessa situação pode ocorrer pela adoção de práticas participativas, em que os
professores aprendam nas situações de trabalho, compartilhem com os colegas,
conhecimentos, metodologias e dificuldades, discutam e tomem decisões sobre o
projeto pedagógico curricular, sobre o currículo, sobre as relações sociais
internas, sobre as práticas de avaliação.
Práticas participativas que tornam a escola
uma comunidade de aprendizagem, uma comunidade democrática, favorecendo o
ensino e a reflexão, valorizando os elementos internos do processo educativo,
tendo consciência de que cada elemento possui sua parcela de responsabilidade,
individual, bem como a implicação do trabalho coletivo.
Neste sentido Libâneo (2007, p. 326) destaca
que.
[…] a gestão
democrática, por um lado, é atividade coletiva que implica a participação e
objetivos comuns, por outro, depende também de capacidades, responsabilidade
individuais e de uma ação coordenada e controlada.
Sendo
a escola, um ambiente social, formado por diferentes sujeitos, das mais
variadas opiniões e comportamentos, é proveniente esclarecer que “uma escola
democrática não é aquela em que todos fazem o querem, mas sim aquela em que
todos fazem o que é bom para todos” (Oliveira, 2008, p. 98).
Nesta
mesma linha de pensamento, Cury (2008 apud OLIVEIRA, 2008, p.17), compreende a
Gestão democrática como principio da educação nacional, presença obrigatória em
instituições escolares, é a forma não-violenta que faz com que a comunicação
educacional se capacite para levar a termo um projeto pedagógico de qualidade e
possa também gerar “cidadãos ativos” que participem da sociedade como
profissionais compromissados e não ausentes de ações organizadas que questionam
a invisibilidade do poder.
Desta forma, fica clara a necessidade de
mudanças urgentes na escola, para que esta possa formar cidadãos competentes e
ativos. Neste sentido a educação exige esforços redobrados, e uma maior
participação da comunidade no ambiente escolar, levando em conta que o mais
importante não é somente o repasse de conteúdos específicos a fim de elevar o
nível escolar, mas sim o preparo dos indivíduos para a sociedade e para
exercício da cidadania.
Ferreira (2008, p. 306), entende a gestão
democrática como:
[...]
gestão é administração, é tomada de decisão, é organização, é direção.
Relaciona-se com a atividade de impulsionar uma organização a atingir seus
objetivos, cumprir sua função, desempenhar seu papel. Constitui-se de
princípios e práticas decorrentes que afirmam ou desafirmam os princípios que a
geram. Este princípios, entretanto não são intrínsecos à gestão como a concebia
a administração clássica, mas são princípios sociais, visto que a gestão da
educação se destina à promoção humana.
Diferente da organização empresarial a escola
deve considerar que o seu trabalho envolve diretamente o lado humano, e mesmo
que o atual sistema necessite de mão de obra qualificada, a instituição não
deve fugir do seu foco principal, ou seja, a construção da cidadania. Dentre os autores que analisam a gestão
educacional, Dourado (1998, apud FERREIRA, 2008, p.304), traz uma definição de
Gestão educacional, que se torna proveniente enunciar.
[...]
a gestão democrática é um processo de aprendizado e de luta política que não se
circunscreve aos limites da prática educativa, mas vislumbra, nas
especificidades dessa prática social e de sua relativa autonomia, a
possibilidade de criação de canais de efetiva participação e de aprendizado do
“jogo” democrático e, conseqüentemente, do repensar das estruturas de poder
autoritário que permeiam as relações sociais e, no seio dessas práticas
educativas.
A participação é entendida como o principio
primordial, para garantir, um pleno desenvolvimento da gestão democrática, como
afirma Libâneo (2007, p. 328)
A
participação é o principal meio de assegurar a gestão democrática, possibilitando
o envolvimento de todos os integrantes da escola no processo de tomada de
decisões e no funcionamento da organização escolar.
Diante dessa afirmação, podemos comprovar que
para a implementação da gestão escolar, é necessário a participação de todos os
envolvidos na escola, bem como professores,funcionários e a própria comunidade,
construindo assim uma
escola mais competente e compromissada com a sociedade. O mesmo autor considera
que a participação é um meio de alcançar os objetivos educacionais esperados,
mas adverte que é necessária a combinação entre a participação e ação, para
obter o resultado esperado.
Dentro da gestão democrática, a participação é
para todos, mas é necessário enunciar que o diretor possui um papel relevante
dentro deste processo, pois a tomada de decisão é coletiva, porém a realização
desta ação cabe ao diretor, o qual é o representante formal da instituição.
A Gestão Democrática é considerada atualmente
“uma das ou a melhor” forma de organização educacional, explorando a
participação, democratizando seu ambiente e relevando todos os seus aspectos
subjetivos.
A
gestão democrático-participativa valoriza a participação da comunidade escolar
no processo de tomada de decisão, concebe a docência como trabalho interativo e
aposta na construção coletiva dos objetivos e do funcionamento da escola, por
meio da dinâmica intersubjetiva, do dialogo, o consenso. (LIBANEO, 2007, p.
344)
Para tanto, a escola entende a Gestão
Democrática, como uma forma de renovar seus princípios e fazer com que o
processo educacional desenvolva-se da melhor maneira possível. Em qualquer instituição
formada por diversos elementos, é necessária uma figura que detenha a
liderança, que direcione o processo e que coordene a situação, por mais que se
opte pela democracia.
LIDERANÇA:
relações de poder e autoridade
Compreendendo a liderança como “a capacidade
de influenciar, motivar, integrar e organizar pessoas e grupos, a fim de
trabalharem para a consecução de objetivos.” (LIBANEO, 2008, p.396), podemos
concluir que na escola não é diferente. Formada por diversos elementos, a
instituição necessita de um individuo que coordene o processo educativo,
proponha sugestões, e exponha os problemas encontrados.
Pode-se adotar a reflexão feita por Thurler
(2001, p. 146), que entende que a liderança consiste em:
[...]
propor óticas mobilizadoras; determinar os eixos de desenvolvimento; conceber
as estratégias de mudança; preocupar-se com o que, chamamos de “apostas
confusas” entre valores e crenças; estabelecer as condições necessárias para
que o sentido da mudança possa ser construído, coletiva e interativamente; ao
passo que a gestão, apanágio da autoridade formal, consiste em ocupar-se das
tarefas terra a terra – indispensáveis – para fazerem um estabelecimento
escolar “funcionar”.
Configurando assim, princípios da Gestão
Democrática, dotado de suas concepções e especificidades, aspectos os quais,
são considerados como formadores da “liderança cooperativa”, a qual envolve a
capacidade de comunicação e de relacionamento com as pessoas, princípios
básicos para compreender as características sociais, culturais e psicológicas
do grupo.
Portanto, pode-se encarar a liderança como
forma de trabalho coletivo, na qual é preciso saber escutar; saber expor com
clareza suas idéias; capacidade organizativa (saber definir um problema, propor
soluções, atribuir responsabilidades, coordenar o trabalho, acompanhar e
avaliar a execução)14 Thurler (2001, p.
144), enfatiza a importância da adoção da liderança dentro do ambiente escolar,
evidenciando que “Aceitando a liderança, também apOiam mais nuanças, rejeitam
mais a burocracia e os “chefinhos”, fazendo diferenças de acordo com as fontes
de legitimidade, os modos de exercício, o grau de controle democrático e o
caráter reversível da liderança”. A liderança como meio de estrutura interna da
escola, vem sendo teoricamente bem aceita, mas na prática, não é marcante sua
popularidade no termo de implementação. Muitos entendem sua importância, seus
benefícios, contudo sua rejeição ainda é notável. Isso se dá devido à falta de
conhecimento de alguns profissionais da educação sobre o que é liderança, que
ao desempenharem seu papel de líder acabam abusando do poder confundindo autoridade
com autoritarismo.
Na instituição escolar, há um grande bloqueio
por parte de seus componentes, quando se fala em poder, essa idéia os remete a
um pensamento negativo, entendendo-o como forma de repressão.
Na
escola, a referência ao poder perturba. Ela remete, fantasticamente, à idéia da
potência absoluta, da violência e, por via de conseqüência, à insubmissão, ao
conflito, ao sofrimento, à avareza afetiva e mental (Dejours, 1993 apud
THURLER, 2001, p. 145)
O mesmo autor, ainda identifica as implicações
de tal forma de negação ao poder, ocasiona nas atitudes dos professores e
responsáveis da escola, afirmando que tal reação, “leva quase sempre os
professores e os esponsáveis das escolas a recusar, ocultar ou tornar irrisória
a palavra e a idéia de “poder”. No entanto, ele está bem presente na escola e
produz sua quantidade de dominação, de conflitos, de violência surda e
invisível. (THURLER, 2001, p. 145).
Os coordenadores desconhecem o principal
objetivo da liderança, causando assim um desconforto no ambiente escolar.
Liderar é conduzir é motivar, os liderados para que contribuam voluntariamente
a fim de alcançar os objetivos em prol de um grupo ou uma organização, no
entanto o poder ainda é visto como símbolo de autoritarismo e não de autoridade
como deveria ser.
Para tanto, torna-se evidente a posição de
Ledesma e Nascimento (2008, 15p. 284) quando enuncia que “não existe poder, mas
sim relações de poder”. Relações de
poder que podem vir carregadas de autoridade ou autoritarismo, relações
baseadas em burocracias ou sob aspectos democráticos,
que
visem a ampliação do desenvolvimento do processo educativo. Thurler (2001, p.
145) expõe que há a necessidade de se romper com concepções errôneas diante das
relações educacionais.
Mas como nossa história traz a burocracia como
forma de organização, é difícil a aceitação por parte dos dirigentes, eles
rejeitam a idéia de compartilhar autoridade, entendendo que esta será diminuída
e a sua figura como o “chefe” da instituição será ofuscada.
Não
é fácil aceitar a idéia de negociar e renegociar as relações de autoridade
referindo-se mais aos objetivos comuns e às competências profissionais do que
às hierarquias formais. (THURLER, 2001, p. 146)
Ledesma e Nascimento (2008, p. 292- 293)
alerta com os cuidados que se deve ter em relação à concepção de autoridade,
tendo noção das conseqüências em abrir mão da autoridade dentro do ambiente
escolar, pois na escola
[...]
a autoridade está revestida de autoritarismo e, conseqüentemente, impõe
controles, força rotinas e mantém ordens que instituem a prática do
conformismo, fazendo com que o poder pareça algo estático, onde uns o detêm e
outros a ele se submetem.
Nesse momento, torna-se oportuno a definição
de autoridade, “direito ou poder de fazer-se obedecer dar ordens, tomar
decisões, agir”. No âmbito escolar, tal definição é logo percebida, pois na
escola, por outro lado o autoritarismo faz com que, as relações sejam baseadas
em princípios de hierarquia, insubordinação, tendo o colega como um súdito, que
deve obedecer as ordens
sem
questionar. “O autoritarismo expresso na forma de organizar o trabalho, contido
no regulamento, deixa clara a máxima de que disciplinar é domesticar.” (LEDESMA
e NASCIMENTO, 2008, p. 295)16
Tornando assim, os educadores, como meros
transmissores deSconhecimento, não possibilitando a auto-identificação como
formadores de opiniões e de caráter. Portanto, uma forma democrática de
organização escolar, abre caminhos para o verdadeiro exercício da democracia na
sociedade. Formando cidadãos conscientes e ativos perante sua realidade.
Podemos
concluir que com o atual contexto educacional fica evidente que o poder
atribuído a alguns cargos de direção e/ou coordenação do trabalho pedagógico,
acabam por influenciar as relações com os demais sujeitos no âmbito escolar, ou
seja, professores e alunos, caracterizando na maioria das vezes, um ambiente
hierárquico, onde as decisões e sugestões são desempenhadas apenas por sujeitos
previamente escolhidos ou nomeados, que possuem o poder da decisão e da
palavra, não aceitando ou até mesmo ignorando as sugestões dos demais
interessados na escola. Isso faz com que professores e alunos, não tenham
conhecimento sobre as contribuições e nem perceba as necessidades que a escola
apresenta.
Fonte:
http://www.educonufs.com.br/ivcoloquio/cdcoloquio/eixo_04/E4-48.pdf
http://www.arturmotta.com/wp-content/uploads/2013/10/escola-e-paradigmas-de-gestao.pdf
http://www2.marilia.unesp.br/revistas/index.php/educacaoemrevista/article/viewFile/616/499