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segunda-feira, 29 de abril de 2019

Importância da FILOSOFIA em múltiplas acepções



Por: Elton Luiz Leite de Souza*


1. A filosofia não nasceu na Grécia. Ela foi deixada lá ainda criança, tal como aqueles bebês deixados à porta de alguém que inspira confiança. Inclusive, a tez da filosofia é mais escura e mestiça do que a branca pele grega. Há quem diga que seus pais eram Egípcios; outros afirmam que foram os Assírios que a conceberam; e há quem defenda ainda que os pais da filosofia foram os nômades povos do deserto que se guiavam pelas estrelas e que nenhum império, por mais que tentasse, conseguiu prender e escravizar. A porta em que a filosofia foi deixada para ser cuidada pertencia à casa de um homem digno chamado Tales, que deu o nome de Sofia à criança. Ele a criou e a ensinou a ficar de pé. Com Heráclito Sofia aprendeu a brincar; com Nietzsche, a dançar; e a fazer-se mais viva Sofia aprendeu com Espinosa, diante dos obscurantistas que a querem morta.

2. Quando alguém cobra honestidade dos políticos, este alguém está a filosofar, pois está exigindo uma virtude ética: a honestidade. E Ética é uma disciplina da filosofia. Quando alguém diz: “o que esse cara fala não tem lógica!”, também está a filosofar, pois Lógica é uma disciplina filosófica. Quando alguém sente: “Gosto dessa música!”, também filosofa, pois o “gosto” (assim como o belo, o feio, o cômico, o grotesco, o sublime, etc) é uma categoria da Estética, uma disciplina filosófica. Quando alguém diz: “Sou pragmático, odeio teorias”, também está a filosofar, pois “Pragmatismo” (assim como “Utilitarismo”) é uma corrente da filosofia. E mesmo quando alguém questiona : “para que estudar filosofia?”, também está a filosofar, pois questiona sobre a Teoria do Conhecimento (ou Epistemologia), uma disciplina da filosofia. Enfim, é impossível alguém estar vivo e não se colocar questões como: “O que é a vida ? O que é Deus? O que é o tempo? O que é a liberdade? O que é o amor? O que é a política? Quem eu sou?...” Não apenas para formular as perguntas, mas também para vislumbrar sentidos para elas, quem assim indaga também está a filosofar, mesmo que não tenha frequentado escola ou lido livros de filosofia, pois essas são questões de uma disciplina da filosofia chamada “Metafísica”. Uma coisa é a filosofia, esta se encontra registrada em livros escritos pelos filósofos; outra é o filosofar, cujo sinônimo é pensar. Os tiranos de toda ordem sempre temem o pensar, e fazem o máximo que podem para impedir que as pessoas, sobretudo os jovens, façam essa descoberta do pensar, ou se já o descobriram, não o exerçam (não importando a faculdade que tenham escolhido cursar). Descobrir o pensar é governar a si mesmo. E apenas os tolos e obedientes, os mortos em vida, dizem “amém” a essa “cicuta” que esses fascistas querem impor a todos (e não apenas aos filósofos e sociólogos)."

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* Possui Mestrado em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1997), Mestrado em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1995) e Doutorado em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2004). É professor adjunto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e professor adjunto da Faculdade de Filosofia de São Bento.

sábado, 27 de abril de 2019

Por que e para que estudar filosofia nos dias de hoje?

Publicado em 10 de Março de 2014. Texto na íntegra em[1] 


“A mente que se abre a uma nova ideia, jamais volta ao original”. 
[Albert Einstein]



Arlindo Nascimento Rocha


A filosofia exige um estudo contínuo, um ‘investimento a longo prazo’ que depende do nosso empenho e das nossas reais motivações, uma vez que ela configura-se como um saber eminentemente teórico. É um empreendimento pessoal que exige muitas horas de leitura, o domínio da exegese textual e de certos conceitos que nos permite acessar progressivamente e em grau cada vez mais exigente em termos de abstração e de formulação de ideias novas a partir do acervo filosófico universal, e, até mesmo tentar ser original nas nossas colocações.

Portanto, o estudo da Filosofia exige compreensão e não memorização dos conceitos, dado que os elementos essenciais da Filosofia são: os problemas, as teorias e os argumentos e os contra argumentos o que implica uma compreensão com vista à tomada de uma posição autónoma, radical e de conjunto, por forma a criarmos as condições necessárias, e, de modo racional, fazermos uma crítica a uma determinada realidade, sistema, objeto ou situação. É nesse âmbito que reside à atitude crítica do homem, fazendo o bom uso da razão, isto é, procurando descobrir o que está velado pelas aparências do cotidiano e ancorados no conhecimento empírico do senso comum ou pelas dogmas existenciais. O estudo da Filosofia exige coragem para ir, a fundo, quebrar paradigmas, ser original, atento e perseverante na busca da verdade e aceitar o desafio da mudança e do crescimento dialético e intelectual. 

Para o senso comum, argumentar é vencer alguém, forçá-lo a aceitar a nossa verdade. Esta definição é errada! Seja na escola, na política, no trabalho ou numa simples conversa saber argumentar é, primeiramente, saber compreender o raciocínio do outro. Argumentar é também conseguir o que desejamos, mas de uma forma construtiva e num sistema de conversa, onde devemos sempre ouvir o que o outro tem para dizer. O principal objetivo da argumentação é passar a nossa verdade para a verdade do outro.

Devido a grande complexidade e o grau de reflexão e abstração, a grande maioria das pessoas que começam a estudar filosofia desiste facilmente por considerarem a disciplina cansativa, abstrata e sem valor prático. No entanto, se analisarmos as razões que nos levam a estudar e tentar perceber esta antiga disciplina, será mais fácil e menos duro fazê-lo. Por isso, antes de abordar questões específicas da filosofia, enfatizarei algumas razões pela qual se considera fundamental para que o estudo da filosofia seja pelo puro prazer de aprender ou visando fins acadêmicos, políticos, religioso etc. Assim, analisarei alguns motivos que podem ser estímulos ao estudo da filosofia, uma vez que o estudo filosófico faculta o desenvolvimento da capacidade de argumentar, a capacidade crítica, o raciocínio lógico e melhora o desempenho profissional em qualquer área.

 Naturalmente, os seres humanos sempre valorizaram e cada vez mais a importância da argumentação na vida cotidiana bem como na vida profissional, seja na academia, na politica ou no dia-a-dia. Com o estudo sistemático da filosofia aumentamos consideravelmente a nossa capacidade de reflexão crítica e o nosso poder de argumentação, sobre vários assuntos, embora saibamos que carregamos um arsenal epistemológico limitado, por isso, a filosofia nos dá essa responsabilidade questionadora que nos leva numa aventura ao desconhecido mediante uma investigação profunda, metódica e isenta através de questões, ou seja, precisamos questionar o mundo, as pessoas e a nós mesmos para que possamos adequar nossas argumentações.

A procura do aprimoramento dessa competência remonta os primórdios da filosofia Grega em que os sofistas, considerados os mestres da retórica, já faziam o uso desse recurso para convencer os seus interlocutores sobre a relatividade da verdade factos em contraponto com o mestre Sócrates que defendia e acreditava numa verdade universal. Por outro lado, como se sabe, a filosofia não constitui um conjunto de saberes dogmatizadas e estanques, ela é uma área aberta a novas ideias, novos conceitos, novos desafios. Assim, essa abertura se traduz numa enormidade de diferentes formas de pensamento que consequentemente nos proporcionam as ideias e soluções para os problemas que se nos impõem.

Portanto, para o estudante de filosofia é necessário uma atitude de investigação, reflexão crítica incessante valorizando a realidade, pois os filósofos  procuram resolver os problemas que surgem da experiência do dia-a-dia, para depois se aventurar na procura de soluções cada vez mais abstratas e difíceis de compreender. Isto acontece porque, se o filósofo não for além dos conceitos que foram deturpadas pelo senso comum e dos preconceitos presentes na sociedade, então ele não conseguirá elevar-se a novas ideias ou novas formas de pensamento.

O estudante de filosofia necessita de ser uma pessoa aberta a novas ideias e formas de pensar, pois isso aumentará significativamente o seu capital intelectual. Nesse aspecto a filosofia é essencial, pois, almeja contribuir para estimular o desenvolvimento de cidadãos pensantes, reflexivos e críticos. Ao apostar no estudo sistemático da filosofia independentemente do tema ou assunto, as capacidades críticas de raciocínio vão sendo treinadas e aprimoradas. Isto acontece porque, ao analisar cada vez mais questões filosóficas ou enigmas lógicos, o nosso cérebro vai progressivamente aumentando a sua capacidade crítica. Ou seja, ao longo do tempo cada indivíduo será bem capaz de colocar questões e encontrar respostas mais eficazes aos problemas ao invés de se contentar apenas com uma simples solução baseado no senso comum e em soluções triviais para problemas inquietantes.

Por outro lado a filosofia também é uma ferramenta essencial a qualquer profissional que queira desenvolver as suas habilidades e competências intelectuais e alcançar o sucesso na sua área profissional. Ao dominar alguns conhecimentos do foro filosófico adquire-se e melhora-se como orador para grandes públicos que possam, eventualmente, colocar-lhe questões que não tinha nos seus planos. Com a ajuda da filosofia e da lógica aprende-se a argumentar corretamente, expressando e justificando nossas opiniões, bem como provocar a livre adesão dos nossos interlocutores às nossas ideias mediante argumentos sólidos e válidos.  Assim, podemos organizar racionalmente de forma coerente e congruente nossos pensamentos e  avaliar a validade dos argumentos que nos são apresentados, contribuindo assim para desenvolver a emancipação, a autonomia do espírito crítico e reflexivo uma vez que, vivemos em sociedade, precisamos de comunicar, expor as nossas ideias e defender os nossos pontos de vista.  Se o fizermos com rigor e clareza, tudo se torna mais fácil e conseguimos fazer com que as nossas ideias sejam melhores compreendidas e aceites intelectualmente pelos nossos interlocutores. 


REFERÊNCIAS

ABRÃO, Bernardette Siqueira. História da Filosofia. - São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Col. Os Pensadores)
ALVES, Maurício Martins. Lógica: uma introdução. - Taubaté: Edição Própria, 2000.
CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. - 13ª ed. - São Paulo: Ática, 2005.
MARTINS, Maria Helena; ARANHA, Maria Lúcia de Aaaruda. Filosofando: introdução à filosofia. - 3ª ed. - São Paulo: Moderna, 2004.
TELES, António Xavier. Introdução à Filosofia. 21ª ed. - São Paulo: Ática, 1984.
WEBER, Max. Ética protestante e o espírito do capitalismo. 4ª ed. - São Paulo: Martin Claret, 2001.