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sexta-feira, 12 de março de 2021

Arlindo Nascimento Rocha - Entrevista ao Jornal Inforpress - Cabo Verde - 2019

Diáspora: Jovem pesquisador cabo-verdiano quer fazer a diferença no mundo académico


Rio de Janeiro, Brasil, 11 Dez (Inforpress) – Chegou ao Brasil aos 38 anos, com o objectivo de “ser alguém” no mundo académico, e, em oito anos, fez uma especialização, um mestrado, deve concluir o doutoramento em 2021 e já publicou dois livros.

Trata-se de Arlindo Nascimento Rocha, 46 anos, santantonense da Ribeira Alta, que a Inforpress encontrou no Rio de Janeiro e que se assume, hoje, como pesquisador na área da Ciência da Religião.

Para além dos dois livros da sua autoria, colaborou numa outra obra, uma colectânea com vários pesquisadores, já publicou nove artigos em revistas académicas e está a trabalhar no seu terceiro livro, uma colectânea de breves ensaios sobre a Antropologia, Filosofia, Sociologia, tudo ligado à religião e que advém das suas pesquisas.

Mas o conto volta atrás, porque quando chegou ao Brasil, em 2012, Arlindo Rocha já tinha feito carreira na docência no Ensino Básico em São Vicente e em Santo Antão e concluído a licenciatura em Filosofia.

À Inforpress, disse que sempre foi um “aluno razoável”, ganhou prémios no Ensino Superior, de mérito na Uni-CV, em 2009, e bolsa de estudo, em 2010, em iniciação à investigação científica.

A vinda ao Brasil, contudo, tem por trás a actual mulher, Pirscila, brasileira, mestre em Filosofia, que conheceu em 2009, numa altura em que esteve no Brasil, não em tarefas académicas, mas ao serviço do teatro cabo-verdiano, como actor do Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo, convidado para o festival Feslip.

Arlindo Rocha lembra que no inicio “não foi nada fácil” no Brasil, já que sempre estudou em universidades particulares, e porque a bolsa não vem logo no início, então havia que custear as primeiras mensalidades, “que não são baratas”.

“Logo no início do mestrado vendi casa que tinha com meu irmão, carro e moto que tinha em São Vicente, ou seja, desfiz de muita coisa porque estava atrás de um sonho e não me arrependo porque que está justificado todo o sacrifício que estou a fazer”, concretizou.

Por isso, disse agradecer a Deus que sempre colocou no seu caminho pessoas que o souberam orientar e abriram as portas, para além, claro, do seu esforço pessoal, até porque na academia, sintetizou, sobretudo em pós-graduação, mestrado e doutoramento, “você vale por aquilo que vale”.

Arlindo Rocha ocupa-se ainda de divulgar tudo o que aprende na sala de aula, através das suas publicações em livros, em artigos e postagens nas redes sociais, onde possui quatro blogues.

No primeiro fala de Blase Pascal, que é o autor que investiga, num outro aborda temas da Ciência da Religião, Filosofia da Religião e Antropologia da Religião, num terceiro sobre vários temas ligados à Educação e ainda um quarto, que criou nos últimos meses, que designa de Oficina Académica, em que dá dicas para quem quer fazer um trabalho académico.

Questionado sobre como arranja tempo para se desmultiplicar nas múltiplas tarefas, o entrevistado da Inforpress respondeu que, na qualidade de bolsista a 100 por cento (%) da CAPS, instituição brasileira que fomenta e financia bolsas para quem quiser ingressar no ensino na pós-graduação, é pago para pesquisar e que tem que dar feedback à entidade financiadora.

Porque diz sentir-se, hoje, capacitado para trabalhar “em qualquer nível do sector da educação”, Arlindo Rocha sustentou que a intenção é regressar a Cabo Verde após a conclusão do doutoramento, porque a vontade e a necessidade apontam nesse sentido.

“Mas ninguém consegue prever o futuro, mas o desejo é esse até porque a minha mulher, que sempre me ajudou e me dá uma certa protecção, gosta muito de Cabo Verde”, precisou.

E o bichinho do teatro, questionamos: “Não morreu, até porque quando cheguei ao Brasil quis muito fazer teatro, tentei mas não deu certo, por isso o bichinho está adormecido, porque estabeleci como prioridade a vida académica”.

“Mas chegando a Cabo Verde, vou ter o meu retorno ao teatro, embora daqui acompanho o trabalho pessoal de São Vicente, do João Branco e a sua equipa, que aproveito para felicitar pelos 25 anos do Mindelact”, concluiu.


AA/JMV
Inforpress/Fim

Arlindo Nascimento Rocha - Entrevista à Uni-CV - Cabo Verde - 2020

Ex-estudante da FACHA dá entrevista a Uni-CV para partilhar o seu percusro no Brasil


A Universidade de Cabo Verde sempre trabalha em prol da valorização dos seus estudantes e ex-estudantes. Neste sentido, publicamos uma entrevista realizada junto com o Arlindo Nascimento Rocha, professor, pesquisador e escritor, que vive no Brasil desde 2012, onde desenvolve as suas atividades académicas e profissionais. Como ex-estudante da Universidade de Cabo Verde, partilhou conosco o seu percurso e algumas das suas ideias.

Arlindo, podes te apresentar brevemente para os nossos leitores?

O meu nome é Arlindo Nascimento Rocha, sou professor, pesquisador e escritor. A minha primeira formação académica foi no Instituto Pedagógico do Mindelo (1997/2000) e, posteriormente, na Universidade de Cabo Verde (2006/2011). Profissionalmente, iniciei as minhas atividades em 2001 como docente do Ensino Básico Integrado (EBI) no Concelho do Paul, ilha de Santo Antão, e lá permaneci entre os anos 2001 e 2005.

Além da atividade de docência, fui gestor do Pólo Educativo no 3 do Paul (Pontinha de Janela) e Supervisor do Curso de Formação de Professores a Distância do IPM. Em 2006, fui transferido para a Cidade do Mindelo e continuei as minhas funções no Pólo Educativo no 17 de São Vicente (São Pedro) e fui um dos primeiros a participar ativamente no processo da revisão curricular como docente pré-experimentador na implementação da Abordagem Por Competências (APC) nos três primeiros anos do EBI.

Atualmente vivo no Brasil (desde 2012), onde construí família e tenho vindo a desenvolver os meus estudos/pesquisas ao nível de Pós-graduação em várias universidades do país que me acolheu.

Qual foi o teu percurso académico, em particular na Uni-CV?

O meu percurso académico na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV) – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas - Pólo do Mindelo, teve início em 2006, no Curso de Licenciatura em Filosofia para Docência, percurso este que foi feito em paralelo com a minha atividade de docência no EBI.

Fui um aluno aplicado, e, pelos resultados obtidos, em 2008 fui distinguido com o Prémio de Mérito pela Uni-CV. Em 2010, fui selecionado para participar do Programa de Iniciação Científica que ocorreu na Universidade Federal de Goiás (UFG) – Brasil, durante dois meses, onde desenvolvi o meu projeto de pesquisa que serviu de base para a elaboração da minha monografia de final de curso, concluído em 2011.

Tens publicado vários artigos e produções académicas. Podes nos explicar melhor como foram desenvolvidas estas oportunidades e em que área foram focadas?

Cheguei ao Brasil em 2012, e dediquei-me quase que exclusivamente à academia. Fui aluno “especial” do Curso de Pós-graduação em Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) durante dois semestres; fiz uma Pós-graduação (Lato Sensu), Especialização em Administração, Supervisão e Orientação Educacional e Pedagógica na Universidade Católica de Petrópolis (UCP), concluí o Mestrado em 2016 e em fevereiro de 2021 farei minha defesa de Doutorado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

A maior parte das minhas pesquisas e publicações estão diretamente ligadas às minhas atividades como aluno e pesquisador de Pós-graduação, Mestrado e Doutorado em Ciência da Religião pela PUC-SP e bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), uma fundação vinculada ao Ministério da Educação do Brasil.

Até o presente momento, já publiquei dez artigos em vários periódicos brasileiros, entre os quais, destaco: Revista Parlamento e Sociedade: Escola do Parlamento da Câmara Municipal de São Paulo; Revista Diversidade Religiosa PPGCR-UFPB; Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento; Revista Brasileira de Filosofia da Religião; Revista Argumentos: Departamento de Ciências Sociais, Unimontes - MG; Revista Último Andar: Cadernos de Pesquisa em Ciência da Religião); Revista Vértices: Departamento de Letras Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

A maior parte dos artigos foram elaborados a partir da minha dissertação de Mestrado e os outros ligados a temas relacionados com Filosofia e Ciência da Religião, Sociologia, Antropologia, Ética, Ensino Religioso, etc.

Além desses artigos já publiquei três obras: uma pela Editora Pod – Rio de Janeiro; e duas pela Editora Viseu – Maringá (para mais informações, cf. nota no final da entrevista).

Além dessas publicações, sou colaborador do Mindel Insite (Cabo Verde) e mantenho os seguintes blogs: O Caniço Pensante; Educação, Cultura e Cidadania; Ciência(s) da(s) Religião(ões) e Oficina Académica, sendo este último, um espaço virtual para apoiar pesquisadores iniciantes com dicas e sugestões de pesquisas.

As tuas atividades profissionais do momento são alinhadas com a tua experiência universitária, como estudante e pesquisador?

Totalmente! Pois, sou pesquisador/bolsista CAPES (integral), e considero que as minhas atividades estão todas embasadas na minha experiência como migrante, estudante (africano) em um país onde o acesso a Pós-graduação (com bolsa) de alunos nacionais (brasileiros) é cada vez mais difícil.

Graças a minha experiência profissional/académica em Cabo Verde e nas diversas universidades brasileiras, acredito que estou preparado para qualquer desafio em termos académicos desde o Ensino Básico a Pós-graduação que possa surgir, tanto no Brasil, assim como em Cabo Verde, particularmente na Uni-CV, universidade que abriu-me as portas para o mundo académico e para o conhecimento.

Atualmente estou trabalhando em uma nova obra (a quarta) que será publicada no segundo semestre de 2021. Mas, o meu objetivo a médio prazo é fazer com que todas possam chegar a Cabo Verde por um preço acessível, pois as solicitações têm sido várias, mas as dificuldades logísticas são gigantescas...

Dirias que a tua experiência na Uni-CV foi benéfica para iniciar a tua carreira profissional no Brasil? De que maneira?

A experiência adquirida na Uni-CV foi um divisor de águas na minha vida académica posterior, pois, com a possibilidade que tive de participar do Programa de Iniciação Científica no Brasil, pude constatar o quão os nossos professores, em meio às dificuldades inerentes a uma universidade ainda em fase de implementação, esforçavam-se para levar os conteúdos da melhor forma aos alunos.

Além da experiência académica, foi uma experiência humanística, pois pude perceber que toda e qualquer dificuldade é superável, desde que os objetivos sejam claros e bem definidos. Da superação cotidiana dos alunos, professores e funcionários, trouxe comigo a tenacidade e a pujança que quem não se deixa desanimar, mesmo quando dar um passo atrás for necessário...

Que tipo de relações manténs com Cabo Verde, e com a Uni-CV em particular?

Mantenho uma relação muito boa, pois, apesar de estar fora de Cabo Verde desde 2012 e de não ter voltado desde então, não afetou em nada, pois atualmente é possível seguir tudo e todos quase que em tempo real, o que de certa forma traz certo conforto, apesar da inevitável saudade.

Após o término do meu doutorado (2021), gostaria muito de poder voltar a dar a minha contribuição como professor/pesquisador, pois, seria a realização e a retomada de um percurso iniciado há exatamente 20 anos.

Em relação à Uni-CV, tenho acompanhado pelas mídias sociais o seu desenvolvimento e engajamento cada vez mais em atividades de ensino, pesquisa e extensão, o que me alegra muito, pois sei que o caminho é longo, mas a nossa universidade está no bom caminho.

Acompanho e tenho contato com vários ex-colegas e docentes, e sei do trabalho hercúleo que estes têm vindo a desenvolver para que a Uni-CV possa, um dia, estar entre as universidades de referência a nível internacional.

A Rede Alumni da Uni-CV tem por objetivo valorizar o percurso dos ex-estudantes da instituição. O que achas deste projeto?

Penso ser de extrema importância, pois o acompanhamento e a valorização dos ex-estudantes só pode trazer benefícios para ambas as partes. É notório que após a conclusão dos estudos na Uni-CV, muitos têm seguido percursos vários, e, em certos casos, dos que continuaram ao nível de Pós-graduação dentro ou fora da universidade e do país, alguns retornam à “casa” para dar sua contribuição.

Por outro lado, ao acompanhar o percurso dos ex-alunos (as), a Universidade tem nas suas mãos um tipo de ‘termômetro’, ou seja, um ‘instrumento’ que, certamente, serve para mensurar (avaliar) o impacto social, cultural, académico/profissional dos seus regressos; (re)avaliar as suas práticas em função dos novos desafios académicos e sociais; (re)adaptar as novas demandas do mercado empregatício; (re)definir as suas práticas de ensino e pesquisa, etc. Todos esses fatores, certamente, contribuirão para elevar a posição da Uni-CV nos rankings das universidades bem classificadas.

É um projeto que, além de valorizar os ex-estudantes, também deve ter como meta estimular outros(as) alunos(as) para que possam sentir comprometidos(as) não só a concluir o curso com sucesso, mas, que possam engajar cada vez mais em pesquisas posteriores, visando fortalecer e dar maior visibilidade não só à Uni-CV, mas à academia cabo-verdiana como um todo. Nesse sentido, todos sairão a ganhar, pois, não existe ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino...

Como vês e imaginas uma relação ideal da Uni-CV com os seus ex-estudantes, em geral e para ti em particular?

Acredito que deve ser uma relação de “mão dupla”. Ambos têm as suas responsabilidades e limites e todos devem estar conscientes dos seus papeis em prol de uma universidade aberta, democrática, acolhedora, engajada, e, sobretudo, com mais qualidade de ensino e mais investimento (formação, pesquisa e extensão).

Uma vez que a Universidade dispõe-se a acompanhar os seus egressos, estes também devem estar atentos a tudo o que acontece dentro e fora da mesma, atuando não como ‘fiscalizadores(as)’, mas, como cidadãos(ães) atentos(as) às boas práticas que precisam ser estimuladas e mantidas e as não tão boas que precisam ser revistas e melhoradas.

Acredito que, só assim, poderemos construir e manter uma boa relação, e desta forma, contribuir para garantir que a Universidade, os(as) seus(as) alunos(as) e ex-alunos(as) tenham o reconhecimento não só nacional, mas, internacionalmente, atraindo assim, novos alunos, novos quadros e novos projetos...

Algumas ideias para contribuir e valorizar a Uni-CV através do teu percurso?

Acredito que a Uni-CV está fazendo um bom percurso: afinal, acabou de completar em novembro os seus primeiros 14 anos de existência. É ainda uma “adolescente” em comparação com outras universidades centenárias. Naturalmente, as dificuldades são muitas, mas, nada que não possa ser superado com tempo, investimento, autonomia, vontade política e dedicação a causa do Ensino Superior.

Acredito que a Uni-CV deva investir na formação continuada e valorização dos seus quadros, (re)qualificação dos seus espaços (principalmente as bibliotecas e salas multimédias); estabelecer ou melhorar os convénios com universidades e pesquisadores de outros países; fomentar nos seus alunos(as) o gosto pela leitura/pesquisa; criar um fundo (monetário) e estimular os seus(as) professores(as)/pesquisadores(as) e ex-alunos(as) para que possam ter as suas pesquisas publicadas em formato impresso (nesse aspeto seria interessante investir em uma gráfica interna, exemplo de muitas universidades brasileiras); estimular e possibilitar a participação da comunidade académica em intercâmbios, congressos, eventos/grupos multidisciplinares de pesquisa nacionais e internacionais...

Acredito que muitas dessas sugestões já estão em curso, mas, nunca é demais rever e manter as boas práticas, pois, o intuito é melhorar sempre...

Para aceder às publicações do Arlindo, entre nos links a seguir:

- Entretextos: coletânea de textos acadêmicos (2017), que resultou da sistematização de vários temas pesquisados na PUC-Rio, ligados à Filosofia Política, Religião, Ciência, Cultura e Linguagem, etc.

- Paradoxos da condição Humana: grandeza e miséria como paradoxo fundamental em Blaise Pascal (2019), uma adaptação da dissertação de Mestrado do Arlindo apresentada em 2016, sob a orientação do professor Doutor Luiz Felipe Pondé. Nela, o autor analisa conceção paradoxal da natureza humana, presente na filosofia pascaliana, em sua dimensão existencial como ser contraditório, enfatizando a relação dialética entre grandeza e miséria como paradoxo fundamental em Blaise Pascal.

- Religar-se: coletânea de breves ensaios (2020), uma obra que visa o estudo e a compreensão do ‘fenómeno’ religioso como parte do ‘fenómeno’ humano a partir do contexto sociológico, antropológico, filosófico, teológico e histórico que também resultou das minhas pesquisas ao longo do mestrado e doutorado.

As obras também estão disponíveis em formato impresso e digital nas lojas das editoras e em várias plataformas digitais.