Para o pensador grego, só voltando-se
para seu interior o homem chega à sabedoria e se realiza como pessoa.
Biografia
Sócrates nasceu em Atenas por volta de 469 a.C. Adquiriu a cultura tradicional dos jovens atenienses, aprendendo música, ginástica e gramática. Lutou nas guerras contra Esparta (432 a.C.) e Tebas (424 a.C.).
Durante o apogeu de Atenas, onde se
instalou a primeira democracia da história, conviveu com intelectuais,
artistas, aristocratas e políticos. Convenceu-se de sua missão de mestre por
volta dos 38 anos, depois que seu amigo Querofonte, em visita ao templo de
Apolo, em Delfos, ouviu do oráculo que Sócrates era "o mais sábio dos
homens". Deduzindo que sua sabedoria só podia ser resultado da percepção
da própria ignorância, passou a dialogar com as pessoas que se dispusessem a
procurar a verdade e o bem.
Em meio ao desmoronamento do império
ateniense e à guerra civil interna, quando já era septuagenário, Sócrates foi
acusado de desrespeitar os deuses do Estado e de corromper os jovens. Julgado e
condenado à morte por envenenamento, ele se recusou a fugir ou a renegar suas
convicções para salvar a vida. Ingeriu cicuta e morreu rodeado por seus amigos,
em 399 a.C.
Contexto histórico
Atenas, capital da democracia e do saber Sob o governo de Péricles (499-429 a.C.), a cidade-estado de Atenas, vitoriosa na guerra contra os persas e enriquecida pelo comércio marítimo, tornou-se o centro cultural do mundo grego, para o qual convergiam os talentos de toda parte.
Contexto histórico
Atenas, capital da democracia e do saber Sob o governo de Péricles (499-429 a.C.), a cidade-estado de Atenas, vitoriosa na guerra contra os persas e enriquecida pelo comércio marítimo, tornou-se o centro cultural do mundo grego, para o qual convergiam os talentos de toda parte.
Fídias, o arquiteto e escultor que
dirigiu as obras do Partenon, o maior templo da Acrópole, os dramaturgos
Sófocles, Ésquilo, Eurípedes e Aristófanes e o orador Demóstenes são nomes
dessa época.O regime democrático ateniense - restrito
aos cidadãos livres, deixando de fora estrangeiros e escravos - foi fortalecido
por reformas que limitaram os poderes da burguesia rica e ampliaram os da
assembléia e do júri popular. A educação artística do povo foi estimulada pela
exibição de obras de arte em locais públicos e pelas representações teatrais.
Sócrates,
o mestre em busca da verdade
O pensamento do filósofo grego
Sócrates (469-399 a.C.) marca uma reviravolta na história humana. Até então, a
filosofia procurava explicar o mundo baseada na observação das forças da
natureza. Com Sócrates, o ser humano voltou-se para si mesmo. Como diria mais
tarde o pensador romano Cícero, coube ao grego "trazer a filosofia do céu
para a terra" e concentrá-la no homem e em sua alma (em grego, a psique).
A preocupação de Sócrates era levar as pessoas, por meio do autoconhecimento, à
sabedoria e à prática do bem.
Nessa empreitada de colocar a
filosofia a serviço da formação do ser humano, Sócrates não estava sozinho.
Pensadores sofistas, os educadores profissionais da época, igualmente se
voltavam para o homem, mas com um objetivo mais imediato: formar as elites
dirigentes. Isso significava transmitir aos jovens não o valor e o método da
investigação, mas um saber enciclopédico, além de desenvolver sua eloquência,
que era a principal habilidade esperada de um político.
Sócrates concebia o homem como um composto de dois princípios, alma (ou espírito) e corpo. De seu pensamento surgiram duas vertentes da filosofia que, em linhas gerais, podem ser consideradas como as grandes tendências do pensamento ocidental. Uma é a idealista, que partiu de Platão (427-347 a.C.), seguidor de Sócrates. Ao distinguir o mundo concreto do mundo das idéias, deu a estas status de realidade; e a outra é a realista, partindo de Aristóteles (384-322 a.C.), discípulo de Platão que submeteu as idéias, às quais se chega pelo espírito, ao mundo real.
Ensino
pelo diálogo
Nas palavras atribuídas a Sócrates por
Platão na obra Apologia de Sócrates, o filósofo ateniense considerava sua
missão "andar por aí (nas ruas, praças e ginásios, que eram as escolas
atenienses de atletismo), persuadindo jovens e velhos a não se preocuparem
tanto, nem em primeiro lugar, com o corpo ou com a fortuna, mas antes com a
perfeição da alma".
Defensor do diálogo como método de
educação, Sócrates considerava muito importante o contato direto com os
interlocutores - o que é uma das possíveis razões para o fato de não ter
deixado nenhum texto escrito. Suas idéias foram recolhidas principalmente por
Platão, que as sistematizou, e por outros filósofos que conviveram com ele.
Sócrates se fazia acompanhar
frequentemente por jovens, alguns pertencentes às mais ilustres e ricas
famílias de Atenas. Para Sócrates, ninguém adquire a capacidade de conduzir-se,
e muito menos de conduzir os demais, se não possuir a capacidade de
autodomínio. Depois dele, a noção de controle pessoal se transformou em um tema
central da ética e da filosofia moral. Também se formou aí o conceito de
liberdade interior: livre é o homem que não se deixa escravizar pelos próprios
apetites e segue os princípios que, por intermédio da educação, afloram de seu
interior.
Opondo-se ao relativismo de muitos
sofistas, para os quais a verdade e a prática da virtude dependiam de
circunstâncias, Sócrates valorizava acima de tudo a verdade e as virtudes -
fossem elas individuais, como a coragem e a temperança, ou sociais, como a
cooperação e a amizade. O pensador afirmava, no entanto, que só o conhecimento
(ou seja, o saber, e não simples informações isoladas) conduz à prática da
virtude em si mesma, que tem caráter uno e indivisível.
Segundo Sócrates, só age erradamente
quem desconhece a verdade e, por extensão, o bem. A busca do saber é o caminho
para a perfeição humana, dizia, introduzindo na história do pensamento a
discussão sobre a finalidade da vida.
O
despertar do espírito
O papel do educador é, então, o de
ajudar o discípulo a caminhar nesse sentido, despertando sua cooperação para
que ele consiga por si próprio "iluminar" sua inteligência e sua
consciência. Assim, o verdadeiro mestre não é um provedor de conhecimentos, mas
alguém que desperta os espíritos. Ele deve, segundo Sócrates, admitir a
reciprocidade ao exercer sua função iluminadora, permitindo que os alunos
contestem seus argumentos da mesma forma que contesta os argumentos dos alunos.
Para o filósofo, só a troca de idéias dá liberdade ao pensamento e a sua
expressão - condições imprescindíveis para o aperfeiçoamento do ser humano.
Nascimento
das ideias segundo o filósofo
Sócrates comparava sua função com a
profissão de sua mãe, parteira - que não dá à luz a criança, apenas auxilia a
parturiente. "O diálogo socrático tinha dois momentos", diz Carlos
Roberto Jamil Cury, professor aposentado da Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo.
O primeiro corresponderia às
"dores do parto", momento em que o filósofo, partindo da premissa de
que nada sabia, levava o interlocutor a apresentar suas opiniões. Em seguida,
fazia-o perceber as próprias contradições ou ignorância para que procedesse a
uma depuração intelectual. Mas só a depuração não levava à verdade - chegar a
ela constituía a segunda parte do processo. Aí, ocorria o "parto das
idéias" (expresso pela palavra maiêutica), momento de reconstrução do
conceito, em que o próprio interlocutor ia "polindo" as noções até
chegar ao conceito verdadeiro por aproximações sucessivas. O processo de formar
o indivíduo para ser cidadão e sábio devia começar pela educação do corpo, que
permite controlar o físico.
Já para a educação do espírito,
Sócrates colocava em segundo plano os estudos científicos, por considerar que
se baseavam em princípios mutáveis. Inspirado no aforismo "conhece-te a ti
mesmo", do templo de Delfos, julgava mais importantes os princípios
universais, porque seriam eles que conduziriam à investigação das coisas
humanas.
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