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Ruben Alves

Rubem Alves 

Rubem Alves é um escritor contemporâneo brasileiro formado em várias áreas de humanidades. Em filosofia formou-se na UNICAMP Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro.

Nasceu em Boa Esperança no dia 15 de setembro de 1933. Estudou teologia, Psicanálise, tornando-se professor, educador e escritor. Dentre seus muitos Livros escreveu uma obra chamada: A Alegria de Ensinar. Neste livro ele fala sobre a dinâmica pedagógica, da interação entre aluno e professor, mostrando que o ensino vai além de métodos formalizados e técnicas específicas.

Rubem diz que somos totalmente condicionados desde a tenra idade a agir nos padrões sociais determinados quanto ao ensino e o aprendizado. O professor é condicionado a ensinar baseado em parâmetros insensíveis ao aluno, fundamentado em métodos e dinâmicas já ultrapassados. Os alunos por sua vez se alienam na busca inexorável por reconhecimento social se limitando apenas ao pouco que lhe é ensinado, uma vez que raramente compartilham de novos interesses em assuntos diversos. Fato é que os alunos não são ensinados na liberdade de um espírito autodidata submisso a verdade. No Brasil, por exemplo, o número de universitários que são analfabetos funcionais, demonstra a forma estúpida de como os tais são incentivados. Existe nisso apenas uma busca de interesses e não de conhecimento vivo e palpável. Busca-se apenas o papel chamado diploma, mas não encarnam o conhecimento, coisa essa fundamental para a autenticação de uma disciplina qualquer. Assim sendo a pedagogia deveria ser vivenciada de forma intensa visando o indivíduo pelo coletivo e não o coletivo pelo indivíduo. O professor nesse caso teria a incumbência de não apenas ensinar, mas também incentivar de forma relevante ao ponto de agregar em seus alunos novos valores e mais do que isso criar um ambiente de liberdade imaginativa. Uma das célebres frases de Rubem Alves é a seguinte: “Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.” Ora, essa frase claramente nos remete ao ensino visceral e não dogmático, com vias no total incentivo a imaginação, a criatividade e não apenas a metodologia e o aperfeiçoamento do QI.

O ensino em sua forma tradicional (salvo raras exceções) promulga o comodismo nos alunos, levando-os a se preocuparem apenas com a prova que terão em suas escolas e não com a prova que terão na vida. Ora, se o conhecimento que recebem não se concretizar na prática, para que serve senão para elitismo e status social? A contingência de algumas disciplinas talvez dificulte um pouco o lado criativo dos alunos, porém tal dificuldade jamais poderia ser motivo de total inibição. As escolas ou professores que agem como aquele que lança um pássaro na gaiola cometem um verdadeiro “Crime” contra a humanidade e seu desenvolvimento. Poucos são os alunos que conseguem liberar seu poder criativo conquanto buscadores criteriosos do elemento verdadeiro, ainda que teórico, em suas disciplinas específicas.

Rubem diz: “Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.” Sendo, portanto a essência do pássaro o voo, o mesmo uma vez descobrindo sua potência, já não poderia se contentar com menos que isso. Assim toda forma de dogmatismo escolásticos promulgaria nele um senso crítico exagerado, inibindo de certa forma seu potencial criativo, já que todas as sua forças são direcionadas para a crítica, posto que a estrutura de ensino essencial a ele o limita de forma esmagadora. Fato é que poucos alunos se tornam desbravadores ao ponto de revolucionar seu próprio aprendizado, porque isso em primeira instância é uma responsabilidade do professor. 

Aqui entra o problema social agindo diretamente no contexto da educação. Uma vez que os próprios professores não recebem incentivo financeiro, já não demonstram tanto interesse pela sua profissão, não digo só pelo apelo mercenário daqueles indivíduos desvirtuados que não dão a mínima para sua responsabilidade como educador, falo também daqueles que sem condições sustentáveis buscam outras fontes de renda que lhe tomam o tempo e a dedicação necessária. Muitos são os professores que dão aula em escolas diferentes inibindo assim seu tempo de pesquisa, essencial para um desenvolvimento mais dinâmico de suas aulas. Isso atinge diretamente os alunos.

A frieza da amargura que há entre Estado e Educação, uma vez que o Estado não tem o tempo hábil para lidar com novas demandas e até mesmo proporcionar o gerenciamento amigável com seus educadores, no que se refere à escola pública, trás malefícios patentes na conjuntura social. O professor ressentido não está apto ao incentivo e neste recalque se encontram seus alunos como indivíduos dependentes do mesmo. A força motriz do educador em termos gerais seria seu próprio espírito e tomando a liberdade do uso de uma linguagem mais abstrata diria que Rubem Alves propõe a ideia de que o professor a princípio deveria ser como um pastor de ovelhas que gradativamente proporcionaria autonomia a elas pela graduação de seu próprio desenvolvimento. Para ele o ensino parte de um relacionamento antes de partir de uma estrutura. A estrutura da ao educador subsídio e limites necessários para que ele ministre sua matéria, mas não é ela a força motriz que o mantém na sala de aula ou que o torne um verdadeiro contribuinte na educação em geral. Tendo por espírito a força visceral, podemos concluir que é através dessa prerrogativa que os alunos serão desafiados, incentivados e preparados para a contingência não só do mercado, mas também da vida. Falando em termos de existência, muitas vezes achamos que a responsabilidade primordial é da família, mas o educador como sendo constituído para tal função de forma obviamente ética pode lidar com o conhecimento emocional de seus alunos e deve sem dúvida exercer grande influencia sobre eles dentro do arcabouço de sua matéria e nos parâmetros de um relacionamento humano saudável.

Rubem Alves também cita uma ordem de coisas em relação a pedagogia, vejamos: “Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.” Aqui, entramos no pano de fundo do conceito do autor a respeito da educação. Os alunos são potenciais. Eles não são copos vazios, onde o professor enche do liquido que desejar. Eles geralmente são assim pelo castramento que recebem pelas convenções. Uma vez castrados já não podem liderar sua própria didática ou desenvolver criatividade. Pássaro que é pássaro não pode ter suas asas cortadas. A inocência do aluno não pode ser perdida pela legislação de um regime educativo limitador, posto que aos inocentes não se é exigido a prerrogativa de qualquer regra que tome o lugar do relacionamento vivo e interpessoal. Regras são frias, e rígidas e não podem abarcar a ética que um relacionamento interpessoal exige. Disciplina nasce autentica pelas vias da sabedoria e não meramente da estrutura. A validação da estrutura é apenas um quebra galho necessário pela praticidade que propõe, mas a longo prazo atrofia os elementos inseridos nela.

A segurança que a regra proporciona é justamente a zona de conforto que impede o desenvolvimento do indivíduo como soma. O homem como ser psicossomático deve ser compreendido de forma integral e não reducionista e fragmentada como no regime de ensino que engolimos anos a fio. Sendo assim a única forma de ensino viável se queremos ajudar na educação de pessoas mais aperfeiçoadas, é o ensino espontâneo, no sentido mais puro de sua flexibilidade. Através de uma visão sociológica o professor poderia se adaptar aos seus alunos de maneira a ensinar-lhes as entranhas de seu legado, mas não prende-los a mediocridade apelativa de seus devaneios. Aprisionar os alunos em nome da liberdade seria a arte suprema do educador que promulga seu ensino para a existência.

Na prática os professores deveriam abandonar um pouco daquele tom autoritário, deveriam deixar de ver tudo de maneira extremamente truncada e literalmente se associar aos alunos, nos limites do bom senso de todo professor. Deveria se abrir a uma influencia mútua, dando mais valor ao caráter social do evento do que ao rigor estrutural que diz que ele é apenas um professor e que os outros seriam apenas alunos.

A consciência do professor e do aluno sendo mudadas pela oportunidade de se conhecer novas pessoas que tiveram experiências diferentes e que enriquecem umas as outras de forma natural e espontânea, com isso não digo que o professor deva abandonar a primazia, mas mais do que ter a primazia ele deve facilitar o ambiente para o aluno. 




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