O
filósofo tcheco combateu o sistema medieval, defendeu o ensino de "tudo
para todos" e foi o primeiro teórico a respeitar a inteligência e os
sentimentos da criança.
Biografia
O nome Comênio é o aportuguesamento da assinatura latina (Comenius) de Jan Amos Komensky, nascido em 1592 em Nivnice, Morávia (então domínio dos Habsburgos, hoje República Tcheca). O pensador Comênio foi filho único de um casal de membros do grupo protestante Irmãos Boêmios. Na Universidade de Heidelberg (Alemanha), se entusiasmou com as idéias de filósofos que criavam uma concepção de ciência baseada no empirismo. Seguiu carreira religiosa e teve de fugir para a Polônia quando, no início da Guerra dos 30 Anos, em 1618, o rei Ferdinando II decidiu reimpor o catolicismo na Boêmia. Sua revolta com a situação o levou a escrever obras filosóficas e pedagógicas satirizando a ordem vigente e propondo mudanças radicais. Essas idéias seduziram pensadores da Inglaterra, que o convidaram a trabalhar no país, mas o projeto foi abortado pela eclosão da Guerra Civil Inglesa, em 1642. Tentativas de reforma escolar a pedido dos governos da Suécia e da Hungria acabaram fracassando - em parte por causa da insistência do pensador em divulgar sua "pansofia", sem sucesso - e ele voltou para a Polônia. Comênio teve novamente de fugir de uma guerra civil e estabeleceu-se em Amsterdã, onde permaneceu até morrer, em 1670. Por essa época, seus livros de texto ilustrados para o aprendizado de línguas e ciências tinham se tornado uma bem-sucedida novidade nas escolas da Europa.
O nome Comênio é o aportuguesamento da assinatura latina (Comenius) de Jan Amos Komensky, nascido em 1592 em Nivnice, Morávia (então domínio dos Habsburgos, hoje República Tcheca). O pensador Comênio foi filho único de um casal de membros do grupo protestante Irmãos Boêmios. Na Universidade de Heidelberg (Alemanha), se entusiasmou com as idéias de filósofos que criavam uma concepção de ciência baseada no empirismo. Seguiu carreira religiosa e teve de fugir para a Polônia quando, no início da Guerra dos 30 Anos, em 1618, o rei Ferdinando II decidiu reimpor o catolicismo na Boêmia. Sua revolta com a situação o levou a escrever obras filosóficas e pedagógicas satirizando a ordem vigente e propondo mudanças radicais. Essas idéias seduziram pensadores da Inglaterra, que o convidaram a trabalhar no país, mas o projeto foi abortado pela eclosão da Guerra Civil Inglesa, em 1642. Tentativas de reforma escolar a pedido dos governos da Suécia e da Hungria acabaram fracassando - em parte por causa da insistência do pensador em divulgar sua "pansofia", sem sucesso - e ele voltou para a Polônia. Comênio teve novamente de fugir de uma guerra civil e estabeleceu-se em Amsterdã, onde permaneceu até morrer, em 1670. Por essa época, seus livros de texto ilustrados para o aprendizado de línguas e ciências tinham se tornado uma bem-sucedida novidade nas escolas da Europa.
Em busca da harmonia
universal
Comênio
viveu a maior parte da vida cercado de guerras. Algumas delas, como a Guerra dos
30 Anos, de protestantes contra católicos, lhe diziam respeito diretamente.
Toda sua obra foi marcada profundamente por isso, uma vez que o fim último de
seu pensamento era a compreensão universal, que uniria toda a humanidade. Ele
perseguiu desde a juventude a unificação da totalidade do conhecimento humano,
porque imaginava que ele era finito e imutável. A construção de uma
enciclopédia do saber e sua adaptação às capacidades infantis são o grande tema
da pedagogia de Comênio, e para sustentá-la ele criou uma base filosófica que
denominou "pansofia", a procura de um princípio básico que
harmonizasse todo o saber. Ao contrário de seu pensamento educacional, que
suscitou interesse pela Europa afora, a pansofia não teve seguidores.
Comênio, o pai da
didática
Quando
se fala de uma escola em que as crianças são respeitadas como seres humanos
dotados de inteligência, aptidões, sentimentos e limites, logo pensamos em
concepções modernas de ensino. Também acreditamos que o direito de todas as
pessoas - absolutamente todas - à educação é um princípio que só surgiu há
algumas dezenas de anos. De fato, essas idéias se consagraram apenas no século
20, e assim mesmo não em todos os lugares do mundo. Mas elas já eram defendidas
em pleno século 17 por Comênio (1592-1670), o pensador tcheco que é considerado
o primeiro grande nome da moderna história da educação.
A
obra mais importante de Comênio, Didactica Magna, marca o início da
sistematização da pedagogia e da didática no Ocidente. A obra, à qual o autor
se dedicou ao longo de sua vida, tinha grande ambição. "Comênio chama sua
didática de ‘magna’ porque ele não queria uma obra restrita, localizada",
diz João Luiz Gasparin, professor do Departamento de Teoria e Prática da
Educação da Universidade Estadual de Maringá. "Ela tinha de ser grande,
como o mundo que estava sendo descoberto naquele momento, com a expansão do
comércio e das navegações."
No
livro, o pensador realiza uma racionalização de todas as ações educativas, indo
da teoria didática até as questões do cotidiano da sala de aula. A prática
escolar, para ele, deveria imitar os processos da natureza. Nas relações entre
professor e aluno, seriam consideradas as possibilidades e os interesses da
criança. O professor passaria a ser visto como um profissional, não um missionário,
e seria bem remunerado por isso. E a organização do tempo e do currículo
levaria em conta os limites do corpo e a necessidade, tanto dos alunos quanto
dos professores, de ter outras atividades.
Ruptura com a
Escolástica
Comênio
era cristão protestante e pertencia ao grupo religioso Irmãos Boêmios, ao qual
se manteve vinculado por toda a vida, tornando-se, em 1648, bispo dos morávios.
Embora profundamente religioso, o pensador propôs uma ruptura radical com o
modelo de escola até então praticado pela Igreja Católica, aquele voltado
apenas para a elite e dedicado primordialmente aos estudos abstratos. Ainda
vigoravam as doutrinas escolásticas da Idade Média, pelas quais todas as
questões teóricas se subordinavam à teologia cristã.
Comênio
não foi o único pensador de seu tempo a combater o pedantismo literário e o
sadismo pedagógico, mas ousou ser o principal teórico de um modelo de escola
que deveria ensinar "tudo a todos", aí incluídos os portadores de
deficiência mental e as meninas, na época alijados da educação. "Ele defendia
o acesso irrestrito à escrita, à leitura e ao cálculo, para que todos pudessem
ler a Bíblia e comerciar", diz Gasparin. Comênio respondia assim a duas
urgências de seu tempo: o aparecimento da burguesia mercantil nas cidades
européias e o direito, reivindicado pelos protestantes, à livre interpretação
dos textos religiosos, proibida pela Igreja Católica.
A obra de Comênio corresponde também a outras novidades, entre elas "o despertar de uma nova concepção de criança", como diz Gasparin. "Ele a trata em seus livros com muita delicadeza, num tempo em que a escola existia sob a égide da palmatória", continua o professor. "A educação era vista e praticada como um castigo e não oferecia elementos para que depois as pessoas se situassem de forma mais ampla na sociedade. Comênio reagiu a esse quadro com uma pergunta: por que não se aprende brincando?"
Salvação da alma
Sob
influência de seitas protestantes e do filósofo inglês Francis Bacon
(1561-1626), Comênio acreditava que a salvação da alma poderia ser alcançada
durante a vida terrena e que o caminho para isso poderia ter a ajuda da
ciência. Para ele, a criatura humana correspondia ao ideal de perfeição.
Comênio acreditava que, por ser dotado de razão, o homem pode entender a si e a
todas as coisas. Portanto, deve se dedicar a aprender e a ensinar. Seguindo
esse pensamento, Comênio conclui que o mais importante na vida não é a
contemplação e sim a ação, o "fazer".
No
pensamento humanista do pedagogo tcheco, a instrução e o trabalho diferenciavam
o homem burguês do homem feudal. Em sua trajetória, o novo indivíduo deveria
imitar a natureza, porque, emulando Deus e respeitando as aptidões de cada um,
não haveria possibilidade de erro. De Bacon, Comênio adotou o método empírico
de explorar o mundo, em contraposição às verdades impostas pelo ensino
medieval. Pela experimentação, ele acreditava que todos poderiam vir a enxergar
a harmonia do universo sob o caos aparente. "Comênio queria mudar a escola
com a didática e a sociedade com a educação", diz Gasparin. "Era um
grande idealista."
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