Pesquisar neste blogue

Traduzir para outras idiomas

terça-feira, 20 de agosto de 2019

Pelos caminhos da academia



Queridos companheiros de luta, trago palavras que gostaria de ter ouvido (ou lido) antes. Uma das coisas mais importantes que aprendi com meu orientador foi “texto é texto”. Texto não é você, não é um pedaço seu, não reflete sua vida, é apenas um produto que você gera. Artigo não expressa sua trajetória, não demonstra os seus esforços, não abarca toda sua competência, não cita os sacrifícios que você fez ou horas que se dedicou. Não saber é mais que normal, se sentir atrasado ou incompetente, por causa de avaliação ou comentários, faz parte, mas não deveria. Porque a formação é processual, lenta e progressiva. 


Não precisamos nos comparar (ou ser comparados) de forma depreciativa com aquele cara incrível que tem 30 anos de carteira e uma escrita perfeita. Não precisamos achar (e ser taxados) que somos pequenos quando vamos escrever um texto e percebemos que não conhecemos metade dos conceitos e temas sobre os quais gostaríamos de falar. Repertório não nasce da noite para dia, escrita é treino, articulação, sentido e coerência vêm com o tempo. 


Impõem-nos prazos e padrões de qualidade com os quais até mesmo a academia sabe que não somos capazes de cumprir, porque todos os grandes já estiveram no lugar de iniciantes em que nos encontramos agora. Vejo que colocam metas gigantes pra extrair de nós o máximo que conseguirem o que é bastante cruel. Mas, não façam isso a vocês mesmos. 

Ao ler seus próprios textos e ao receber críticas, não se taxem, não se rebaixem, não se depreciem. Um texto fraco não marca (ou não deveria marcar) um pesquisador como fraco. Uma análise errada, não te faz incompetente. Sentir necessidade de ampliar o repertório não quer dizer que você não estude ou que deva se matar devorando livros pra alcançar um ideal acadêmico (que, cá entre nós, nunca se esgota). 

Mesmo os grandes cometem erros, mesmo os consagrados falam asneiras, mesmo os mundialmente conhecidos começaram em algum lugar. Não se sinta mal ou se compare com seu colega estrelinha, o das maiores notas ou o que é aprovado pra todos os congressos, ele não tem as mesmas limitações, carga de trabalho, horas livres pra estudar, formação ou responsabilidades que você. 

Não gosto do sistema onde nos inserimos, mas (ainda) não posso mudá-lo. O que eu posso dizer é que se você está na graduação, acabou de passar no mestrado ou ainda não concluiu seu doutorado, somos todos iniciantes. Estamos dezenas de anos atrás das pessoas que lemos ou que nos ensinam. Melhorar leva tempo, críticas ruins acontecem, reprovar e até ser excluído de programa são possibilidades (eu mesma levei 7 anos pra sair da graduação e fui reprovada em 3 editais até ser ‘o super primeiro lugar’). 

Mas nada disso define você, nada disso impede (ou não deveria impedir) que amanhã você cresça e que daqui 30 anos novos iniciantes estejam lendo você. Não permitam que a academia os adoeça, não deixem que ela abale sua identidade. Por mais difícil que seja, aproveite o que for construtivo e não acredite no que for cruel; e contem comigo quando precisarem. 

Fonte: Facebook de “Lorena Porto”, publicado em 15 de julho de 2018. Disponível em < https://www.facebook.com/lorena.porto3/posts/1749744308446727>. acesso em 20/08/2019. 


Sem comentários :