Publicado em 05/04/2013
O livro Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire traz
em tona a questão da contradição opressor X oprimido.
Para desenvolver sua crítica sobre o modelo de educação
reproduzida conforme o conformismo social, ele utiliza vários conceitos dos
quais compreenderemos a seguir.
Em seu primeiro capítulo que tem como título
“justificativa da pedagogia do oprimido”, Freire discute o processo de
desumanização causada pelo opressor a seus oprimidos. Ele relata, que a forma
de imposição que o opressor envolve o oprimido, e faz com estes sejam menos, ou
seja, vejam-se em condições onde ele precise do seu usurpador. Neste
capítulo Paulo Freire desenvolve dois conceitos importantes: A revolução de
contradição. Para ele uma revolução no campo da opressão, por buscar mudanças
daqueles que dominam, acabam gerando novos opressores e oprimidos. Já na
contradição o opressor se reconhece como o tal e o oprimido consegue vê-se
subjugado por outro.
É a contradição que gera a consciência. Mas a autor
adverte que o processo de desintoxicação da opressão deve acontecer de maneira
cuidadosa para que os opressores não venham a ser novos oprimidos. O processo
de liberdade deve ser vista e sentida por ambas as partes. A libertação do
estado de opressão é uma ação social, não podendo portanto, acontecer
isoladamente. O homem é um ser social e por isso, a consciência e transformação
do meio deve acontecer em sociedade.
Em todo o contexto de seu livro, o autor busca mostrar
como a educação no Brasil produz um fetiche social, reproduzindo a
desigualdade, a marginalização e a miséria. Ele coloca que o ensinar a não
pensar é algo puramente planejado pelos que estão no poder, para que possam ter
em suas mãos a maior quantidade possível de oprimidos, que se sentindo como
fragilizados, necessitam dos que dominam para sobreviverem. Mas como poderá o
homem sair da opressão se os que nos “ensinam” são também aqueles que nos
oprimem? No desenvolver de seu livro, Paulo Freire procurar conscientizar o
docente do seu papel problematizador da realidade do educando.
No capítulo II, a autor discute “a concepção ‘bancária’
da educação como instrumento de opressão. Seus pressupostos. Suas criticas”.
Ele traz a discussão de que é o professor quem faz o seu aluno um mero
depositário, ao considerar o aluno como incapaz de produzir conhecimento, e
desconsiderar-se como um ser em formação contínua.
Para Paulo Freire, ensinar a pensar e problematizar sobre
a sua realidade é a forma correta de se reproduzir conhecimento, pois é a
partir daí que o educando terá a capacidade de compreender-se como um ser
social. Uma vez conhecendo sua situação na sociedade, o educando jamais se curvará
para a condição de oprimido, pois seu lema será a igualdade e por ela
buscará.
A educação
bancária transforma a consciência do aluno em um pensar mecânico, ou seja, em
sentir como se a realidade social fosse algo exterior a ele e de nada lhe
aferisse. Já a educação problematizadora gera consciência de si inserido no
mundo em que vive e diz respeito à ideia de que deve existir um
intercâmbio contínuo de saber entre educadores e educandos, com a
intensão de que os últimos não se limitem a repetir mecanicamente o
conhecimento transmitido pelos primeiros. Por meio do diálogo entre professores
e alunos, estabelecem-se possibilidades comunicativas cuja raiz está na
transformação do educando em sujeito de sua própria história. É a superação da
dicotomia “educado X educando”. Nesse processo de educação problematizadora, o
professor aprende enquanto ensina pelo diálogo de seus educando, estimulando o
ato cognoscente de ambos, ou seja, ensina e aprende a refletir criticamente.
O processo de educação deve desenvolver a consciência
humana, pois só os homens tem consciência de sua incompletude e, por isso busca
compreender o mundo que vive em sua finitude. Mas é no ser que transforma que
ele percebe a sua importância, portanto é na educação problematizadora que gera
história que se humaniza a sociedade.
O capítulo III tem como tema “a dialogicidade – essência
da educação como prática de liberdade” demostra o quanto é importante o
desenvolvimento no diálogo no processo educativo. A comunicação é expressa pelas
palavras e pela ação, por isso a verdade tem que estar constante nestes dois
momentos de construção da educação, tanto do aluno quanto do professor. É isso
que dá sentido ao mundo em que os homens vivem e se relacionam. O diálogo entre
educador-educando começa em seu planejamento do conteúdo programático,
quando questiona o que vai refletir com seus alunos. Mas esse conteúdo não pode
estar dissociado do cotidiano dos alunos. Ele tem que ter uma relação com o que
eles vivem no mundo atual. Tem que haver uma conexão real. Ensinar e
aprender, é uma constante investigação, porém Paulo Freire adverte para que não
torne o homem, neste processo, um mero objeto de investigação. Que não se perca
a essência do ser humano.
O capítulo IV trata da “teoria da ação antidiagógica”, na
qual descreve a importância do homem como ser pensante de práxis sobre o mundo.
A ação transformadora se faz pela reflexão e ação. Demonstra também que um ser
que se dedique a liderança revolucionária da opressão, não deve confundir seu
papel de representante do diálogo oprimidos, impondo o seu ponto de vista. Tem
que levar a verdadeira palavra daqueles que representa emergindo o novo em meio
ao velho da sociedade dominante. O caráter revolucionário dos oprimidos, em sua
ação transformadora, é uma ação pedagógica, da qual se emerge novas
possibilidades de renovação social.
Em sua descrição sobre o sistema de opressão
antidialógico, Paulo Freire descreve que são quatro os elementos utilizados
para a realização da dominação.
A primeira delas é a conquista, método pelo qual o
opressor impõem jeitosamente sua cultura sobre o opressor; A divisão das massas
para poder dominá-las, pois, povo unido é sinal de perigo de desordem social,
esse é o discurso de quem oprime, por isso, evita-se trabalhar conceitos como
lutas, revoltas, união, etc. É pela manipulação que os opressores controlam e
conquistam as massas oprimidas para a realização de seus objetivos. Também
a invasão cultural é um instrumento da conquista opressora. A minoria
dominante impõe sua visão de mundo e todos se guiam por ele.
Por fim, Paulo Freire encerra esse capítulo colocando os
elementos da ação dialógica, que são a co-laboração, a união, a
organização e a síntese cultural. A co-laboração do diálogo, entende o
outro como o outro e respeita a sua culturalidade. A união da massa oprimida se
faz necessária, e é papel do representante dessa classe mantê-la unida para
ganhar força de transformação. A organização é um aporte da união das massas,
mas é também um sinal de liberdade para os oprimidos. A síntese cultural se
fundamenta na compreensão e confirmação da dialeticidade permanência-mudança,
que compõem a estrutura social.
Portanto, compreendendo a tese fundamental de Paulo
Freire neste livro, vemos que ele elabora conceitos pedagógicos pelos quais o
educador deve enveredar-se para uma transformação no contexto social de
dominação que se dá através do processo de educar. Opressores e oprimidos são
vítimas da mesma inconsciência. A conscientização se dá por um processo gradual
em que se busca a liberdade sem produzir novos opressores e oprimidos. Ele
coloca uma revolução na estrutura social, através da qual o homem como sendo de
fundamental importância a sua existência no mundo, é capaz de fazer sua
história, sem um futuro à priori, como este que é imposto pelas minorias
dominantes.
Ao analisarmos essa obra de Paulo Freire, percebemos que
até hoje, em nossas escolas, o conceito de educação problematizadora ainda não
conseguiu ser implantadas. O professor formador de conscientização vive um
drama entre ensinar o que a pensar ou cumprir com o currículo que lhe é imposto
pelos órgãos educacionais. O tempo lhe traga toda a esperança de uma
conscientização social. Vive pesquisando para preparar uma aula que
muitas vezes os alunos nem param para ouvir por que o conteúdo que o professor
tem que cumprir não condiz com a realidade que seus alunos vivem. Então podemos
entender que o sistema educacional de hoje também continua a disseminar a
opressão. Não por causa do professor, mas pelas condições de trabalho que
lhes é imposto. O educador hoje é tão vítima como o oprimido, pois é meramente
mais um deles.
fonte: http://franfreire.wordpress.com/2013/04/05/resumo-critico-do-livro-pedagogia-do-oprimidoresumo-critico-do-livro-pedagogia-do-oprimido/comment-page-1/
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