Educação e Auto-Conhecimento
Arlindo
Nascimento Rocha
“Se a sociedade nos abandona, a solidão é tratável, mas
se nós, mesmos nos abandonamos, ela é quase incurável.” A.Cury.
É comum as pessoas interrogarem
sobre a responsabilidade da educação dos filhos/alunos. Pais ausentes muitas
vezes responsabilizam a escola pela boa ou má educação dos filhos, e, por sua
vez, as escolas se defendem com certa razão de que a educação começa em casa,
então, é tarefa dos pais e da família, educar os filhos, cabendo à escola a
tarefa de transmitir conhecimentos. Não querendo corroborar com nenhuma dessas
teses, pessoalmente, acho que a responsabilidade da educação é de todos, família,
escola e sociedade. A educação começa na família e continua tanto na escola bem
como a sociedade, mediante o estabelecimento de relações interpessoais significativas.
A escola deve ser vista como um complemento da educação familiar.
Não podemos continuar
loteando nossos filhos, por isso, pais, educadores e a sociedade têm responsabilidades
sobre o futuro emocional, social e intelectual dos mesmos, excluindo assim, a pretensão
de alguns pais em terceirizar a educação dos filhos, atribuindo à escola uma responsabilidade
que também é deles.
Muitos pais perderam o
respeito e a capacidade de educar porque não entendem os comportamentos espontâneos
dos seus filhos. Muitos querem ensinar seus filhos a serem pacientes, mas eles
mesmos são impulsivos, ou ensiná-los a ser flexíveis quando eles mesmos são engessados
e rígidos. O exemplo não é só uma boa forma de educar, é a mais poderosa e eficiente.
O exemplo grita muito mais que as palavras... Devemos plantar janelas light objetivando contribuir para a
formação de mentes livres e emocionalmente saudáveis.
Porém, como e sabido, a educação
clássica ensina aos alunos, desde a pré-escola à pós-graduação, milhões de
informações sobre o mundo e que vivemos, mas, não ensina quase nada sobre os fenômenos
que nos tornam seres pensantes. Com as
devidas exceções, homens e mulheres com diplomas nas mãos, sem proteção emocional,
sem a capacidade reflexiva e questionadora, passivos, sem habilidades para
lidar com perdas e frustrações, sem capacidade mínima de filtrar estímulos estressantes
e de ser líderes de si mesmos.
Um dos grandes desafios da
educação do sec. XX deveria estar embasada em práticas que levassem a
descoberta e ao entendimento do próprio “eu”, e dos seus papeis fundamentais. Porém,
cotidianamente, usamos a palavra “eu” sem ter a compreensão a sua verdadeira dimensão,
suas habilidades e funções vitais.
Segundo A. Cury existem pelo
menos vinte e cinco papéis vitais que ajudam a desenvolver e a honrar a condição
de homo sapiens, ou seja, um ser
pensante.
Na impossibilidade de fazer
uma listagem exaustiva desses vinte e cinco papéis, elucidarei alguns, não por
serem os mais importantes, mas pela sua pertinência, começando pela: “capacidade
de criar pontes, ou, seja, saber que toda a mente é um cofre, que não há mentes
impenetráveis, mas chaves erradas; aprender a dialogar e a transferir o capital
das experiências, e não apenas comentar o trivial; reciclar a influência do
sistema social que nos torna meros números no tecido social, e não seres
humanos complexos, desenvolver o altruísmo, solidariedade e tolerância
inclusive conseguem mesmo; gerenciar a lei do menos e do maior esforço e educar-se
com todas as vinte e quatro funções mais complexas da inteligência, para desenvolver
a mais notável delas: ser o autor da sua própria história ou gestor da sua
mente”.
Para o desenvolvimento
dessas habilidades, a mediação do professor torna-se indispensável, que segundo
Cury, são os profissionais mais importantes e ao mesmo tempo desvalorizados, o
que tem levado o sistema educativo mundial a um estado agonizante, formando
alunos imaturos e despreparados para serem líderes de si mesmos numa sociedade
digital.
Ainda estamos presos a uma
educação clássica em que o “eu” não é organizado, treinado e preparado para ser
gestor psíquico, torna-se um mero realizador de tarefas: “eu fiz, eu faço, eu
farei” ou “eu desejei, eu desejo, eu desejarei”, esse tipo de “eu” é imaturo e serviçal,
sujeito a obedecer ordens, sem consciência
de seus papéis essenciais, contrariamente ao “eu” saudável inteligente, autônomo,
autoconsciente e autocrítico.
No se livro “Ansiedade: como enfrentar o mal do século”,
A. Cury, explicita os seis tipos de eu: o
eu gerente, que engloba as pessoas que aprenderam a gerenciar seus
pensamentos e a exercer a arte de questionar, de duvidar dos pensamentos
perturbadores, que critica as falsas crenças e determina ou decide
estrategicamente onde quer chegar; o eu
viajante ou desconectado, que engloba as pessoas que perderam os parâmetros
a realidade, vivendo assim, imersos em seu psiquismo, pensando, imaginando e
fantasiando; o eu flutuante, que são
as pessoas que não tem ancora, segurança, estabilidade, clareza sobre onde está
e onde quer chegar, não tendo a capacidade de exercer a capacidade de escolha autônoma
e consciente, enfim, são pessoas que casam transtorno nas próprias relações, e perturbam
a tranquilidade dos outros; o eu
engessado, que são pessoas rígidas, fechadas, inflexíveis que vivem entediados
e entediando seus íntimos. Defendem radicalmente suas convicções e não abre
espaço para respeitar o diferente; o eu
autossabotador, que são pessoas que vão contra a liberdade, conspira contra
o seu prazer de viver, sua tranquilidade e seu êxito profissional e social. Um eu
que sabota sua própria felicidade, pode ser ótimo para outros, mas péssimo para
si próprio pode ser tolerante com os amigos, mas implacável consigo mesmo e raramente
se dá uma nova chance, e, finalmente, o
eu acelerado, onde estão incluídos um grande número de pessoas em todo
mundo, em todas as sociedade modernas, de crianças a idosos que se entulham de
informações, atividades e preocupações, fato que levou ao aparecimento da Síndrome do Pensamento Acelerado, que
se tornou o grande mal do século, gerando péssima qualidade de vida, insatisfação
crônica, retração da criatividade, doenças psicossomáticas, transtorno nas
reações interpessoais, e consequentemente transtornos na relação consigo mesmo.
Apesar da postura do eu revelar
níveis de criatividade, maturidade, racionalidade, resiliência, capacidade de
se adaptar as mudanças, de proteger a psique e de superar conflitos, não
podemos esquecer de que, tanto na psiquiatra, bem como na psicóloga e na
pedagogia, aliás, como em qualquer outra ciência que tenha como objeto de
estudo o homem e o seu comportamento, nada é imutável.
Por isso, jamais podemos
esquecer de que não existem soluções mágicas, então é necessária uma nova
agenda para formar núcleos de habitação do eu. São necessários exercícios de
educação diários para nos fortalecer mentalmente e preparar para novos desafios
e novas conquistas.
Referencia:
CURY, Augusto “Ansiedade, Como Enfrentar o Mal do Século”: A síndrome do pensamento Acelerado: como e porque a humanidade, adoeceu coletivamente, das crianças aos adultos Augusto Cury. 1. ed. São Paulo: Saraiva 2014
CURY, Augusto “Ansiedade, Como Enfrentar o Mal do Século”: A síndrome do pensamento Acelerado: como e porque a humanidade, adoeceu coletivamente, das crianças aos adultos Augusto Cury. 1. ed. São Paulo: Saraiva 2014
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