Um novo documento de políticas da UNESCO (UNESCO policy
paper) mostra que 58 milhões de crianças com idades entre 6 e 11 anos ainda
permanecem fora da escola, o que demonstra pouca melhora desde 2007. Porém, o
documento destaca que uma mudança positiva é possível e apresenta o sucesso de
17 países que reduziram a população fora da escolar em quase 90% em um período
de pouco mais de uma década. Esses países investiram em ações positivas para
abolir as taxas de pagamento escolar, introduziram currículos mais relevantes e
forneceram apoio financeiro às famílias carentes.
Esse dado foi
apresentado pela diretora-geral da UNESCO, Irina Bokova, em uma coletiva de
imprensa em Bruxelas, no dia 26 de junho, durante uma conferência de
comprometimento organizada pela Global Partnership for Education.
Espera-se que doadores e países renovem seus compromissos para oferecer escola
e aprendizagem a todas as crianças.
“Concordando com as
recentes notícias da UNESCO de que a ajuda para a educação sofreu novamente
reduções*, a falta do progresso na diminuição do número de crianças fora da
escola confirma nossas preocupações – não há chance alguma de que os países
consigam atingir o objetivo de educação primária universal até 2015”, disse a
diretora-geral da UNESCO, Irina Bokova. “Não podemos mais encarar essa notícia
com inércia. Pelo contrário, devemos soar o alarme e mobilizar a vontade
política de garantir que o direto de toda criança à educação seja respeitado”.
Os novos dados
mundiais sobre alunos fora da escola, produzido pelo Instituto de Estatística
da UNESCO (UIS), mostra que cerca de 43% dos jovens fora da escola – o que
corresponde a 15 milhões de meninas e a 10 milhões de meninos – provavelmente
nunca pisarão em uma sala de aula se as tendências atuais continuarem.
A falta desse
progresso mundial se deve em grande parte ao alto crescimento populacional da
África Subsaariana, agora, pátria de mais de 30 milhões de crianças fora da
escola. A maioria dessas crianças nunca se iniciará na escola, e aquelas que a
frequentam correm o risco de desistir dela. Em toda a região, mais de uma em
cada três crianças que ingressaram no sistema educacional em 2012 deixarão a
escola antes de atingir o último ano da educação primária.
O documento também
mostra as falhas críticas na educação de crianças mais velhas, entre 12 e 15
anos de idade. Em todo o mundo, 63 milhões de adolescentes estavam fora da
escola em 2012. Apesar dos números terem sofrido uma redução para quase um
terço, desde 2000, no sul e no oeste da Ásia, a região ainda possui a maior
população de adolescentes fora da escola – 26 milhões de jovens. Na África
Subsaariana, são 21 milhões de adolescentes fora da escola e esses números
continuarão a crescer caso as tendências continuem.
O relatório inclui
análises baseadas no Relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos,
que mostra que 17 países – que representavam cerca de um quarto da população
mundial fora da escola em 2000 – reverteram essa tendência ao reduzir a
população de alunos fora da escola em 86%, de 27 milhões para menos de 4
milhões, em pouco mais de uma década. No Nepal, por exemplo, 24% das crianças
estavam fora da escola em 2000, mas esse índice caiu para 1% até 2013. No
Marrocos, a população de alunos fora da escola sofreu uma redução de 96% no
mesmo período.
A análise identifica
seis políticas que provaram ser bem-sucedidas para ajudar crianças em idade de
educação primária a frequentar a escola e que podem oferecer lições úteis para
outros países:
Abolição de taxas: o
Burundi aboliu as taxas de pagamento escolar em 2005 e o índice de matrículas
no país aumentou de 54% para 94% em seis anos.
Transferência de
renda: na Nicarágua, que introduziu transferências de renda para ajudar
famílias a compensar o custo para a educação em 2000, a porcentagem de crianças
que nunca estiveram na escola foi reduzida de 17%, em 1998, para 7%, em 2009.
Maior atenção a
minorias étnicas e linguísticas: o Marrocos implementou o ensino da língua
local amazigh nas escolas primárias, em 2003, e observou a
porcentagem de crianças que nunca tinham ido à escola reduzir de 9% para 4%
daquela data até 2009.
Aumento da despesa
com a educação: Gana dobrou a despesa pública destinada à educação e observou o
número de crianças matriculadas na escola aumentar de 2,4 milhões, em 1999,
para 4,1 milhões em 2013.
Melhora da qualidade
da educação: o Vietnã, que implementou um novo currículo que presta particular
atenção aos alunos desfavorecidos, conseguiu reduzir em mais da metade a
porcentagem de crianças que nunca foram à escola entre 2000 e 2010.
• Superação de conflito: a dificuldade de acesso de crianças à educação em áreas de conflito e em outras áreas do Nepal no período de guerra civil, que se encerrou em 2006, foi derrubada graças a programas que aumentaram as oportunidades de educação, principalmente bolsas de estudos para grupos marginalizados.
“Esses países
enfrentam muitas circunstâncias diferentes, mas todos compartilham a vontade
política de fazer verdadeiras mudanças na educação”!, afirmou Irina Bokova. “Ao
mesmo tempo em que eles conseguiram mudanças momentâneas, suas tarefas estão
longe de serem concluídas – eles devem, agora, garantir que todas as crianças
completem os anos escolares e aprendam as habilidades necessárias para lidar
com uma vida produtiva e saudável. Porém, hoje, outros podem aprender com as
experiências desses países: elas mostram que o progresso real é possível, e
devemos isso às crianças para que elas possam seguir esse caminho”.
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