A
sociedade brasileira é intrinsecamente complexa e pluralista, tendo em vista a
heterogeneidade do comportamento social, político e educacional. Isso implica,
nomeadamente, que os aspectos próprios de cada contexto e suas diferenciações,
estejam presentes de forma fundamentada e planejada na educação formal, que se
pretende implementar nas escolas.
Atualmente
a escola enfrenta o desafio em realizar um trabalho, não somente de formação
acadêmica dos alunos, mas principalmente definir qual o seu objetivo central a
nível de conduta ética e moral perante toda comunidade escolar e para a vida.
Nesse contexto, onde a cidadania é uma pedra
basilar e a formação integral do indivíduo uma meta a atingir, gerenciar uma
instituição escolar, vai além de cumprimento inescrupuloso de meros protocolos
administrativos de forma centralizada e individualizada. A instituição escolar
abrange um universo heterogêneo, no qual estão indivíduos com origens,
caraterísticas e personalidades distintas que precisam ser atendidas e
respeitadas na sua individualidade, por isso, ressalto Paro (2008, p. 130):
O gestor escolar tem de se conscientizar de que ele,
sozinho, não pode administrar todos os problemas da escola. O caminho é a
descentralização, isto é, o compartilhamento de responsabilidades com alunos,
pais, professores e funcionários. Isso na maioria das vezes decorre do fato de
o gestor centralizar tudo, não compartilhar as responsabilidades com os
diversos atores da comunidade escolar. Na prática, entretanto, o que se dá é a
mera rotinização e burocratização das atividades no interior da escola, e que
nada contribui para a busca de maior eficiência na realização de seu fim
educativo.
Há um grande desafio, para o gestor escolar
em realizar um trabalho que de fato seja construtivo para comunidade escolar da
qual faz parte. Sendo assim, os princípios éticos de um gestor na comunidade
escolar são fundamentais, para o êxito de todos que estão participando do
ambiente escolar. Ser ético enquanto gestor escolar significa organizar ações
que visem harmonizar o convívio entre os indivíduos do universo escolar.
Ética na gestão escolar, esta pautada não
somente em princípios pessoais do gestor, mas principalmente, na importância
destes, na condução do trabalho de todos os envolvidos na comunidade escolar, qual
a contribuição de fato para o reconhecimento de que todos que ali estão, são
responsáveis direto, para o desenvolvimento e execução de um trabalho eficaz
que permita o reconhecimento da importância de ser sujeito efetivo, da
construção de um trabalho em conjunto.
O
ato ético dificilmente é captado em sua totalidade pelo discurso ético,
portanto estabelecer uma universalidade ou objetividade é extremamente difícil.
Tal ato implica em conflitos que se manifestam nas relações cotidianas
intersubjetivas, e a eticidade se qualifica tanto mais por sua problematização
do que por outras formas de ser.
Os
desafios do mundo da prática provocam, por vezes, conflitos entre aquilo a que
o discurso se propõe e o que a prática constitui. Expressa a tática dos
diferentes atores e as estratégias que adotam para a resolução desses
conflitos, inclusive na construção de uma ética pessoal, constituindo as
dimensões reflexivas sobre uma ética aplicada em seu poder exploratório. Assim,
pensar nos contextos éticos não é simplesmente estabelecer a ética ou regras de
conduta específicas para cada tipo de atividade, em vez disso, é iluminar os
aspectos práticos da decisão de propor novos instrumentos para nova reflexão e
ação.
A
ética, então, não é separável da teoria da ação. Ela deriva sua significação a
partir da aplicação prática dos princípios para o bem dos outros ou da equidade
coletiva. Ela pressupõe a consciência de suas nascentes e seus efeitos reais,
objetivando adquirir ou inventar formas de ser ético sem perder de vista a necessidade
de reflexão aprofundada sobre as motivações e os meios para construir e
desenvolver a humanidade.
Dessa
forma, se não houver um esforço para estimular à prática da conduta ética,
valorizando a credibilidade, a reputação, a transparência e a correção na
condução e execução de rotinas, e, principalmente, no relacionamento pessoal
com os colegas, professores, alunos, pais, a imagem da escola, pode estar sob
constante ameaça.
Por
isso, desenvolver a consciência ética é um objetivo que exige dedicação
permanente através do acompanhamento e da avaliação das atitudes de todos os
colaboradores, é uma atividade que exige o comprometimento de cada um dos
gestores. Além disso, gestores que usam a fantasia de "chefe",
costumam desmotivar os professores mais qualificados e talentosos, que se
sentem oprimidos diante da ineficiência e das consequentes injustiças.
Todo
esse quadro interfere diretamente na manutenção de um ambiente de trabalho
pouco saudável. Nesse cenário, os resultados até podem aparecer, mas,
provavelmente, não serão consistentes.
Como
se sabe, o mundo, como sempre, está mudando. Mas há uma diferença. Os avanços e
as mudanças sociais, políticas e educacionais dos últimos anos atingiram a
sociedade com velocidade impressionante. Este impacto se traduz numa crescente
crise de valores, exigindo que posições e opiniões anteriormente imutáveis
sejam revistas. Há uma necessidade de aprender, de descobrir e de,
principalmente, desenvolver uma sensibilidade adequada a estes novos tempos.
Restam
poucas dúvidas que o exercício profissional marca a existência de cada um de
nós, mexendo com a inteligência, a afetividade, os princípios e os valores. No
caso da educação escolarizada é relevante destacar que a profissão docente é
ética por excelência; é um ato de “professar”, ou seja, exercer pública e
socialmente o ato ético de contribuir na formação de pessoas (conduzindo e influenciando
ações), no qual é constante a necessidade de decidir, de agir prudentemente,
enfim, de fazer escolhas conscientes e valorações. Portanto, destacamos o
conceito de ética, disponível em[1].
A eticidade consiste em um dos princípios
fundamentais do Código Civil de 2002. Este princípio tem como consequência
necessária o princípio da boa-fé objetiva, e significa que os indivíduos devem
agir em boa-fé nas relações de caráter civil. Juntamente com os princípios de
operabilidade e sociabilidade, o princípio da eticidade constitui um pilar
importante do Código Civil Brasileiro, porque atribui valor à dignidade do ser
humano. De acordo com esse princípio, um indivíduo deve ser íntegro, leal,
honesto e justo. Isso significa que qualquer atitude que vá contra o princípio
da eticidade deverá ser punida. A eticidade, sendo uma das características do
código civil, garante que ele tem "sustentação ética", porque
reconhece e valoriza a probidade, a solidariedade social e outras qualidades do
ser humano.
Assim,
no exercício da gestão educacional há reflexões pertinentes a serem procedidas
constantemente, uma vez que ela implica em posturas e ações de decisão, escolha
e valorações. A complexidade das inter-relações e interações na
contemporaneidade, na qual um conjunto unitário e universal de valores não
abarca todas as suas implicações, exige a presentificação da diversidade, da
multiplicidade, da diferença que se impõe ao olhar ao interagir com os outros.
É
preciso que o gestor esteja informado e consciente de que, na gestão de “sujeitos”
e instituições educativas é central a necessidade de enfrentar os diversos desafios
cotidianos com a ousadia da inovação, do diálogo e da prática de princípios e
valores incontestáveis como a solidariedade, a justiça, o respeito mútuo, a
tolerância, a participação coletiva, entre outros. Por si só, isso leva a
interligação entre a reflexibilidade ética e o exercício de uma gestão educacional
competente e prudente, garantindo assim a sustentabilidade do sistema e uma
maior integração e sucesso no ensino e aprendizagem dos alunos.
In: SILVA, Magda Cristiane Elias. Poder Institucional e a Prática do Gestor Escolar: “A necessidade de se refletir sobre a prática gestora na escola”. Monografia de Pós-Graduação, UCP/IPETEC, 2015.
[1] Dicionário de Significados.com.br.
Disponível em: http://www.significados.com.br/eticidade/. Acessado 14/05/2015
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