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quarta-feira, 16 de abril de 2014

Africanos foram condenados a se reinventar, diz Joel Rufino na Bienal do Livro


A 2ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura realizada no dia (15) com foco na discussão sobre a diáspora africana e a construção do país. Oportunidade em que o historiador, professor e escritor Joel Rufino dos Santos ressaltou que “a diáspora está na própria essência da história da humanidade”, com destaque para a especificidade da migração negra: de condenação a se reinventar.

Segundo ele, “os africanos que se espalharam pelo mundo, especialmente pelas Américas e pelo Brasil, em particular, foram condenados à reinvenção. Já não puderam prosseguir com seus valores, língua, religiões e visões de mundo, como em seu continente de origem”.

Joel Rufino avaliou que essa reinvenção ganhou tons ainda mais evidentes no Brasil, país formado por migrações, na maior parte das vezes forçadas, e que hoje tem o maior número de pessoas originárias da África fora daquele Continente. De acordo com ele, a diversidade cultural e religiosa do país é uma marca evidente dessa reinvenção, que ajuda a explicar o tratamento dado pelos brasileiros aos outros povos: “Talvez, de toda essa reinvenção do africano no Brasil, o elemento que ele mais guardou tenha sido a habilidade de incluir o outro”. Uma inclusão que não se dá sem resistência, segundo ele.

Questionado sobre a exclusão dos negros dos territórios, em especial das grandes cidades, nos dias atuais, ele defendeu que “qualquer política pública ou privada no Brasil tem a ver com a presença dos negros, das comunidades negras”, e destacou o crescimento da intolerância religiosa como um dos empecilhos para que “o desejo de igualdade racial, que é uma ideia, vire uma crença, uma cultura”.

Participante do debate, o geógrafo e coordenador dos Projetos Geografia Afro-Brasileira: Educação e Planejamento do Território, Rafael Sanzio, acrescentou que as diásporas continuam existindo, seja da população estrangeira, que vê no Brasil um lugar de possibilidades de trabalho - no bairro, em espaços rurais - ou mesmo em uma feira de livros, onde é perceptível a ausência de escritores negros. “A África brasileira existe, a questão é a visibilidade”, disse, ao lembrar a dificuldade para que o ensino da história africana começasse a ser introduzido nas escolas.

Apostando no processo educativo para romper com a invisibilidade dos negros na história oficial, Sanzio estudou, ao longo de 20 anos, as migrações negras, um trabalho que acaba de ser publicado pela editora da Universidade de Brasília (UnB). O Atlas ÁfricaBrasil mostra os fluxos dos povos originários de diversos países e elucida a diversidade étnica dos africanos que foram escravizados nas Américas. O estudo parte da cartografia e da fotografia para mostrar um panorama das referências africanas no território brasileiro. Sanzio aposta que, com informação, “o Brasil possa ultrapassar essa invisibilidade da matriz africana em nosso país”. A publicação está disponível no estande da UnB, na Bienal do Livro.

Helena Martins - Repórter da Agência Brasil 
Edição: Stênio Ribeiro
Fonte: 

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