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sexta-feira, 1 de outubro de 2021

É PRECISO IR EMBORA


Ir embora é importante para que você entenda que você não é tão importante assim, que a vida segue, com ou sem você por perto. Pessoas nascem, morrem, casam, separam e resolvem os problemas que antes você acreditava só você resolver. É chocante e libertador – ninguém precisa de você pra seguir vivendo.

Nem sua mãe, nem seu pai, nem seu ex-patrão, nem sua empregada, nem ninguém. Parece besteira, mas a maioria de nós tem uma noção bem distorcida da importância do próprio umbigo – novidade para quem sofre deste mal: ninguém é insubstituível ou imprescindível. Lide com isso. É preciso ir embora.

Ir embora é importante para que você veja que você é muito importante sim! Seja por 2 minutos, seja por 2 anos, quem sente sua falta não sente menos ou mais porque você foi embora – apenas sente por mais tempo! O sentimento não muda. Algumas pessoas nunca vão esquecer do seu aniversário , você estando aqui ou na Austrália.

Esse papo de “que saudades de você, vamos nos ver uma hora” é politicagem. Quem sente sua falta vai sempre sentir e agir. E não se preocupe, pois o filtro é natural. Vai ter sempre aquele seleto e especial grupo que vai terminar a frase “Que saudade de você…” com “por isso tô te mandando esse áudio”; ou “porque tá tocando a nossa música” ou “então comprei uma passagem” ou ainda “desce agora que tô passando aí”.

Então vá embora. Vá embora do trabalho que te atormenta. Daquela relação que você sabe não vai dar certo. Vá embora “da galera” que está presente quando convém. Vá embora da casa dos teus pais. Do teu país. Da sala. Vá embora. Por minutos, por anos ou pra vida. Se ausente, nem que seja pra encontrar com você mesmo. Quanto voltar – e se voltar – vai ver as coisas de outra perspectiva, lá de cima do avião.

As desculpas e pré-ocupações sempre vão existir. Basta você decidir encarar as mesmas como elas realmente são – do tamanho de formigas.

Antônia no Divã

quinta-feira, 30 de setembro de 2021

NÃO JULGUE PELAS APARÊNCIAS


Um homem rico entrou num bar em Miami. Assim que ele entrou, notou uma mulher africana (negra), sentada em um canto. Ele foi até o balcão, tirou a carteira e gritou: 

-"Barman! Estou a comprar bebidas para todos neste bar, exceto para aquela mulher negra ali!"

O empregado do bar recolheu o dinheiro e começou a servir bebidas grátis a todos no bar, exceto para a mulher africana. Em vez de ficar chateada, a mulher negra simplesmente olhou para o tipo e gritou:

- "Obrigada!"

Isto enfureceu o homem rico. Então, mais uma vez, ele tirou a carteira e gritou:

 - "Empregado! Desta vez eu estou comprando garrafas de vinho e comida adicional para todos neste bar, exceto para aquela africana sentada ali no canto!"

O garçom recolheu o dinheiro do homem e começou a servir comida grátis e vinho para todos no bar exceto para a africana. Quando o empregado acabou de servir a comida e as bebidas, a mulher africana simplesmente sorriu para o homem e disse:

- "Obrigada!"

O que o deixou furioso! Então, ele se inclinou sobre o balcão e perguntou ao barman: 

- "O que há de errado com aquela mulher negra? Comprei comida e bebidas para todos neste bar, exceto para ela e, em vez de ficar zangada, ela senta-se ali, sorri para mim e grita: -"Obrigada!" Ela está louca?"

O barman sorriu para o homem rico e disse: 

- "Não, ela não é louca. Ela é a dona deste estabelecimento."

Moral da história: nunca julgue as pessoas pela sua aparência.

Existem textos que precisam ser lidos, e partilhados centenas de vezes.

[Autor(a) desconhecido(a)]

domingo, 19 de setembro de 2021

Leia 'Paulo Freire' - 100 anos

 


"Ler Paulo Freire é um ato de resistência", resume a professora da PUC-SP Emília Cipriano. "Para quem é educador, ele ensina um caminho de valorização da fala do aluno e da importância da escuta, por parte do professor", diz a pedagoga, que conviveu com ele por cerca de quatro anos, quando foi sua aluna de doutorado. "Na época, o que mais me chamava a atenção era a sua coerência. Ele aplicava conosco o que discursava em seus livros, era um mestre da escuta, que tentava discutir a educação pelo nosso olhar" (Fonte). 

Clique e lei 17 obras do Patrono da Educação brasileira:

1. A Importância do Ato de Ler
2. A Propósito de uma Administração
3. Ação Cultural para a Liberdade
4. Cartas à Guiné-Bissau
5. Educação como Prática da Liberdade
6. Educadores de Rua, uma Abordagem Crítica – Alternativas de Atendimento aos Meninos de Rua
7. Extensão ou Comunicação
8. Medo e Ousadia
9. Pedagogia da Autonomia
10. Pedagogia da Esperança
11. Pedagogia da Indignação
12. Pedagogia: Diálogo e Conflito
13. Pedagogia do Oprimido
14. Política e Educação
15. Por uma Pedagogia da Pergunta
16. Professora Sim, Tia Não
17. Carta de Paulo Freire aos professores

[Fonte

 

terça-feira, 15 de junho de 2021

O QUE É UM PLANO DE INTEGRIDADE?


Programa de Integridade é um conjunto de ações voltadas para a prevenção, detecção e remediação de fraudes, atos de corrupção, desvios éticos e de conduta de agentes públicos ou corporativos.

A maior parte dos programas contêm um conjunto de incentivos que orientam o comportamento dos agentes, de forma a alinhá-los ao interesse público.

No Brasil, os programas de integridade visam assegurar a conformidade com os princípios éticos (ética) e a observância das leis e normas aplicáveis (compliance).

O primeiro principio do PROGRAMA DE INTEGRIDADE é o compromisso com a promoção da ÉTICA, com o objetivo de:

a)promover a cultura de integridade como requisito essencial para o aumento da confiança; b)assegurar o comportamento virtuoso do agente público ou corporativo; c) privilegiar o progresso ético, baseado na consciência do indivíduo; d)orientar por valores e princípios presentes em códigos e incentivados por meio do exemplo da liderança; e)discernir e agir de forma correta...

O segundo princípio do PROGRAMA DE INTEGRIDADE é a promoção do COMPLIANCE, com o objetivo de:

a)garantir o cumprimento das leis que são observadas; b)privilegiar o comportamento legalmente orientado dos agentes; c)reconhecer as normas e procedimentos que devem ser observados, sob pena de responsabilização.




..............................................
VIEIRA, James Batista. Governança, gestão de riscos e integridade/James Batista Vieira, Rodrigo Tavares de Souza Barreto -- Brasília: Enap, 2019.

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Homem - um enigma ambulante



Na impossibilidade de sabermos alguma coisa com absoluta certeza sobre o que é o Homem, vários pensadores tomaram para si a tarefa de definí-lo, o que não é de todo pacífico, pois, sua natureza é diversa.

O filósofo estoico Epiteto de Hierápolis (c. 50-130 d. C.) enfatizava, sobretudo, a grandeza e a dignidade da natureza humana ignorando assim, suas respetivas misérias...

Para o monge agostiniano Martinho Lutero (1483-1546), o homem é um ser corrompido, envenenado e pecaminoso, sua natureza e essência são impuras...

Segundo o fundador da Ciência Política Moderna, Nicolau Maquiavel (1469-1527), o homem é mau por natureza, a menos que precise ser bom...

Ao contrário de Epiteto, o filósofo Michel de Montaigne (1513-1592), apontava a fraqueza, a debilidade e a miséria do homem engajado pela sua imaginação, volúvel e escravo da opinião pública, sujeito às doenças e à morte...

Para o francês Blaise Pascal (1623-1662), "o homem é um ser oco e cheio de lixo". Tomando Epiteto e Montaigne como referências, define o homem como um ser paradoxal, ou seja, um amontado de grandezas e misérias. Para ele, o homem não é, pois, senão disfarce, mentira e hipocrisia, quer em si mesmo, quer em relação aos outros. Não quer que se lhe diga a verdade, evita dizê-la aos outros...

Para o filósofo John Locke (1632-1704), o homem nasce como se fosse uma folha em branco e todo o processo do conhecer, do saber e do agir é aprendido através da experiência...

Contrariamente a Maquiavel, Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), acreditava que homem é bom por natureza, mas a sociedade o corrompe...

Para o filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860), o homem possui a consciência da sua vontade, mas essa vontade é cega, robusta e irracional, que carrega um aleijado que enxerga...

Para o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), o homem é uma corda, atada entre o animal e o super-homem – uma corda sobre o abismo...

Agora é sua vez!

Consegue desvendar esse enigma que é o homem???

segunda-feira, 7 de junho de 2021

Definir limites não faz de você uma pessoa ruim




A educação familiar nunca foi tão importante quanto hoje, pois, a velocidade com que as coisas acontecem faz com que muitos pais não tenham consciência do quão é importante sua postura firme e efetiva na educação dos filhos.

Pais não podem continuar loteando a educação de seus filhos, atribuindo responsabilidades aos outros e esquecendo do seu papel.

Os pais têm responsabilidades acrescidas sobre o futuro emocional, social e intelectual dos seus filhos, excluindo assim, a pretensão de algumas famílias em terceirizar a educação dos mesmos, atribuindo à escola uma responsabilidade que também é deles.

Uma das atribuições que os pais devem ter em mente é a questão dos LIMITES. Na nossa atual sociedade, impor limites é um ato de AMOR.

Inicialmente, muitos pais podem não entender que, impor limites aos filhos desde tenra idade é uma forma preventiva de evitar futuros desvios comportamentais.

No limite, os pais devem AMAR e impor LIMITES aos seus filhos na mesma proporção. Portanto, é fundamental e salutar que estes possam ver nos pais, pessoas capazes de amá-los, protegê-los, educá-los e impor certos limites até que eles mesmos consigam fazê-lo por si mesmos.

Agindo assim, os pais estarão ajudando os seus filhos a galgar progressivamente níveis de maturidade, racionalidade, resiliência, capacidade de adaptar a mudanças, proteger sua psique e superar conflitos intra e interpessoais.

Já ouviu falar em conformidade social?



Em “A Psicologia das Massas”, Gustave Le Bon diz que em situações de multidão acontece uma espécie de esfacelamento das nossas vontades individuais e sofremos então uma regressão aos nossos instintos mais primitivos.

Perdemos o valor cerebral de nossas ações e entramos num estado medular, tudo acontece em forma de sugestão coletiva, por contágio.

É importante lembrar que a conformidade social é algo assimilado, e esse mecanismo é imposto pelo externo, sendo a subjetividade um agente passivo para comandos socialmente implantados.

Diante de um produto que questiona a neutralidade, podemos inclusive pensar nessa mecânica em termos ideológicos: o apolítico é também um tipo de conformidade social, uma vez que ao se esquivar de uma posição, o sujeito está sendo condizente com uma ordem vigente.

Entenda o que é compliance empresarial



O termo compliance significa “estar em conformidade com”, obedecer, satisfazer o que foi imposto, comprometer-se com a integridade.

No âmbito corporativo, uma Organização “em compliance” é aquela que, por cumprir e observar rigorosamente a legislação à qual se submete e aplicar princípios éticos nas suas tomadas de decisões, preserva ilesa sua integridade e resiliência, assim como de seus colaboradores e da Alta Administração.

O compliance tem a função de monitorar e assegurar que todos os envolvidos com uma empresa estejam de acordo com as práticas de conduta da mesma.

Essas práticas devem ser orientadas pelo Código de Conduta e pelas Políticas da Companhia, cujas ações estão especialmente voltadas para o combate à corrupção [...].



"A Guernica Amazônica"



Triste realidade! "A Guernica Amazônica" é uma referência à obra do pintor espanhol Pablo Picasso que mostra o bombardeio dos Nazistas à pequena cidade de Guernica, durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939).

O bombardeiro aconteceu no dia 26 de abril de 1937. Aviões alemães da Legião Condor destruíram quase completamente a cidade com cerca de 6 mil habitantes, ceifando a vida de 1660 pessoas e ferindo cerca de 890.

O quadro tem um significado político e é uma crítica à devastação causada pelas forças nazistas à semelhança do que está acontecendo com a Amazônia.

Portanto, qualquer semelhança da 'Guernica' de Picasso com a 'Guernica Amazônica' não é pura coincidência. No limite, o que muda é o método e os meios empregados para tal, mas, as intenções e os objetivos são os mesmos.




sexta-feira, 28 de maio de 2021

ÉTICA E DEONTOLOGIA PROFISSIONAL NA FUNÇÃO PÚBLICA

 



"Age como se a máxima da tua ação fosse para ser transformada, através da tua vontade, em uma lei universal[...]" [Immanuel Kant].
 

Arlindo Nascimento Rocha[1]

Atualmente, quando se fala em ‘função pública’, logo pensamos (genericamente) em um conjunto de atribuições que podem e devem ser desempenhadas por ‘agentes públicos’, podendo ser em funções temporárias ou em cargos de confiança. A isso vem associado um conjunto de julgamentos que muitas vezes não abonam em favor da nobre missão que é de servir com responsabilidade, transparência e integridade nas diversas esferas da governança.  

O termo ‘agente’ (do latim agens) refere-se ao sujeito da ação, isto é, àquele que exerce uma determinada ação. Na lei brasileira o ‘agente público’ segundo a Lei no 8.429/02/01/1992 em seu Art. 2° “é todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função (…)”. No entanto, é preciso frisar que existem outros tipos de vínculos: servidor público, empregado público, terceirizados (...). Sendo assim, a categoria ‘agente público’ contempla todos os servidores, ou seja, todos que exercem funções a nível federal, estadual e municipal.

A Lei que regulamenta esse tipo de contratação é a 8.754/1993 que dispõe sobre a contratação por tempo determinado para atender ao interesse público, como está previsto na Constituição Federal, em seu Art. 37: “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência.” No Inciso IX reafirma-se que: “a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para atender à necessidade temporária de excepcional interesse público.”

No desempenho das suas atribuições, os agentes públicos, principalmente os que ocupam funções administrativas ou de chefia, deparam-se com situações em que é preciso tomar determinadas decisões. Mas, nem sempre são pautadas nas melhores práticas. Boas decisões exigem discernimento, integridade, honestidade, mas, sobretudo, o exercício das virtudes éticas. Esse exercício requer que todo o agente público, aja com decência, ou seja, virtuosamente, pois, são eles que estão na linha de frente, lidando com recursos públicos. Diante das inúmeras demandas, são eles a tomar as melhores decisões com a finalidade de garantir o bem comum, baseado em padrões e princípios éticos de probidade, decoro e boa-fé, sendo que, este último princípio tem a função de estabelecer o padrão ético e de conduta dos agentes públicos.

Mas, o que significa ser virtuoso ou agir virtuosamente? Na ética aristotélica, a virtude desempenha um papel central na busca do télos (finalidade), através da prática de boas ações que visam o bem de todos. Logo, ser virtuoso significa agir em prol do bem comum, ou seja, em prol da comunidade. Na esteira de Aristóteles, pode-se elencar três características para que um agente público possa ser considerado virtuoso: deve ter consciência da justiça; agir motivado pela própria ação; e, agir com absoluta certeza da justeza do seu ato. Portanto, quanto mais exercitar suas virtudes, mais virtuoso será.  

Nesse caso, o estagirita considerava a virtude como o ‘meio-termo’ entre dois perigosos extremos, ou seja, uma espécie de mediedade, na medida em que visa um meio entre o excesso e a falta. A semelhança do que afirmou em sua obra Ética a nicômaco, o agente público deve ser visto como alguém que tenha boa reputação, pois, deve praticar a virtude acima de tudo. Logo, precisa ser um bom exemplo de cidadania, integridade e honestidade. Como a mulher de Cesar, não basta o agente ser honesto, deve parecer honesto, pois, só se torna virtuoso e ético convivendo e relacionando com os outros.  

Por isso, não basta apenas praticar atos virtuosos, é preciso que se tenha uma conduta virtuosa, sabendo e querendo fazê-la. Virtuosidade não deve ser confundida com um simples ato voluntário ou uma opinião. Por isso, é necessário organizar um novo referencial de orientação do comportamento do agente público, em que prevaleça “(...) o bem de todos, sem preconceitos (...)”, como está explícito na Constituição Federal em seu Art. 3º, Inciso IV.

Mas, o grande desafio na função pública é ter esse equilíbrio para encontrar efetivamente esse ‘meio-termo’, ou seja, esse ‘caminho-do-meio’ baseado no esforço contínuo para exercer uma função com sabedoria, integridade e honestidade, valores que são cruciais à sociedade. Mesmo assim, não se deve esquecer que esse caminho também pode ser o da mediocridade. Nesse sentido, a fronteira entre ser íntegro ou não, está na capacidade de lidar com os quereres dos outros e encontrar a justa proporção entre uma decisão rígida, porém, justa ou uma decisão benévola, mas sem efeito prático na transformação do comportamento ético do agente.      

Diante da complexificação das relações laborais no contexto do funcionalismo público brasileiro em geral, é observável, em certos casos, atitudes e comportamentos que muitas vezes espelham desvios de conduta, fraudes e corrupção no que tange a inobservância dos limites legais que cada agente deve exercer suas funções. No entanto, nos últimos anos o Brasil vem seguindo a tendência mundial, relativamente aos debates em torno de questões éticas que envolvem a administração pública. Aliás, como vimos anteriormente, o Art. 37 da Constituição Federal, enfatiza claramente os princípios fundamentais que visam garantir os aspectos éticos e de transparência.

É nesse sentido que a ética e a deontologia profissional tornaram-se fundamentais, pois, hodiernamente são duas áreas de conhecimento que evidenciam a possibilidade de recuperar determinados valores profissionais que ao longo do tempo foram colocados de parte, em consequência da crise que assola a sociedade como um todo.

Etimologicamente, ética (do grego ethos, ‘costume’, ‘hábito’ ou ‘caráter’) como conhecemos hoje, está associada diretamente a ideia de virtude.  Essa ideia, como vimos, foi defendia inicialmente por Aristóteles, o primeiro a tratar a ética como campo de conhecimento associado ao modo de regulação do comportamento dos indivíduos. Além dele, outras figuras importantes como Maquiavel, Espinoza, Jeremy Bentham, Stuart Mill, Kant e Nietzsche também refletiram sobre o tema em suas respetivas épocas.

Apesar disso, ética em seu sentido lato, continua sendo um conceito polissêmico, aliás, é um daqueles conceitos que todos conhecem e usam, mas não sabem explicar. Regra geral, é considerada uma ciência da conduta humana. No entanto, pode ser concebida de duas formas diferentes: a que considera como ciência do fim para qual a conduta humana deve ser orientada e os meios para atingir tal fim; e a que considera a ciência do móvel da conduta e procura determinar tal móvel com vista a disciplinar essa conduta. Mas, atualmente existe consenso entre os estudiosos que a ética é uma filosofia prática que procura regulamentar a conduta, tendo em vista o desenvolvimento humano, uma vez que procura aperfeiçoar seu caráter através de atos que se orientam pela retidão, isto é, a concordância entre a ação, a verdade e o bem comum.

Tornou-se também, um imperativo falar em ‘deontologia profissional’, sobretudo, como referência à noção de dever ético ou professional. O termo deriva do grego deontos/logos e significa o estudo dos deveres que surgiu a partir da necessidade da autorregulagem de condutas profissionais. O termo, segundo o filósofo Italiano Nicola Abbagnano, começou a ser usado em 1834 por meio da obra póstuma de Bentham Deontology or the science of morality. Inicialmente era usado para designar uma ciência do ‘conveniente’, ou seja, uma moral fundada na tendência a perseguir o prazer e fugir da dor [...].

A tarefa do deontólogo, diz Bentham, é ensinar ao homem como dirigir suas emoções de tal modo que as subordine ao seu bem-estar. Contrariamente à ideia de Bentham, na filosofia moral (séc. XX) passou-se a falar em ‘éticas deontológicas’ ou do ‘dever’. Um exemplo desse tipo de ética é a kantiana que prescreve o ‘dever’ pelo ‘dever’, uma crítica ao utilitarismo benthamiano, como adverte Michael Sandel, pois, fundamenta-se no respeito e na dignidade da pessoa humana.

De modo geral, a deontologia profissional é entendida como a forma de reger os comportamentos profissionais visando alcançar bons resultados, garantir a confiança e proteger a reputação do agente público. Reger os comportamentos, significa orientar a atuação do agente na execução de atos administrativos a bem do interesse público, sempre com base em valores regidos pela ética profissional.

Por isso, deve ter como sustentáculo os princípios ou normas exigíveis e exequíveis por todos os agentes, ainda que não estejam regulamentadas pelas leis vigentes. Em razão disso, os códigos deontológicos ampliam o sentimento ético. Em certos casos, ética e deontologia são inseparáveis e muitas vezes usadas como sinónimos. Mas, ética não se reduz à deontologia, pois, é preciso ir além do mero cumprimento das normas deontológicas.

Nesse sentido, e, voltando a Aristóteles, o bom agente público deve desenvolver todas as virtudes profissionais e humanas, exercitadas através da profissão. Logo, todos devem exercer seus deveres com zelo, dignidade, decoro e integridade tendo consciência que os princípios éticos são primados maiores que norteiam o serviço público, seja no exercício do cargo ou fora dele. A semelhança do que disse Kant, todos devem agir como se a máxima da ação de cada um pudesse ser  transformada em uma lei universal como forma de escapar dos aspectos subjetivos do utilitarismo e compreender que o valor ético das ações está ligado à motivação do agente e não às consequências do ato. 

Para finalizar, reafirma-se que ética e deontologia profissional dizem respeito a todos que trabalham nos diversos níveis da função pública, independentemente da posição hierárquica que ocupam. É importante que todos atuem em consonância com os princípios normativos estabelecidos e que haja controle sobre seus atos. Por isso, torna-se um imperativo a criação de uma política de gestão ética por meio de ações que promovam continuamente a integridade na função pública.

Sejamos todos éticos e íntegros no trabalho, na vida, até a eternidade!


Artigo publicado originalmente em: CLIQUE AQUI


Referências

ABAGNANNO, Nicola. Dicionário de filosofia. – 5ª ed. – São Paulo: Martins Fontes, 2007.

ARISTÓTELES. Ética a nicômaco. [PDF]. Trad. de Leonel Vallandro e Gerd Bornheim da versão inglesa de W. D. Ross: Nova cultural, 1991.

BRASIL. Constituição Federal. - 6ª ed. Até a EC n. 57. – Barueri, SP: Manole, 2009. – (Códigos 2009).

BRASIL. Lei nº 8.429, de 2/07/1992. (Capítulo I, Artigo 2). Disponível em<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8429.htm#:~:text=L8429&text=Disp%C3%B5e%20sobre%20as%20san%C3%A7%C3%B5es%20aplic%C3%A1veis,fundacional%20e%20d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias.&text=Art>. Acesso em 24/04/2021.

CARAPETO, Carlos; FONSECA, Fátima. Ética e Deontologia - Manual de Formação. [PDF] - (ISBN 978-972-99919-1 -2), Lisboa, 2012.

SANDELM, Michael J. Justiçao que é fazer a coisa certa. – 21ª ed. – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016.



[1] Atua como Consultor do Núcleo de Integridade da Controladoria Geral do Município (CGM-Niterói). É autor das obras: Entretextos: coletânea de textos acadêmicos. - 1ª ed. – Rio de Janeiro: Editora PoD, 2017; Paradoxos da condição humana: grandeza e miséria como paradoxo fundamental em Blaise Pascal. - 1ª ed. – Maringá: Viseu, 2019; Religar-se: coletânea de breves ensaios. - 1ª ed. – Maringá: Viseu, 2020 e de vários artigos publicados em revistas acadêmicas.

segunda-feira, 12 de abril de 2021

SOBRE O SENTIDO DA VIDA



Cada ano, mês, dia, hora, minuto ou segundos que passam, aproximamos continuamente da morte. Mas, não sabemos a que distância estamos dela e ela de nós.

Nesse sentido, concordo com o Filósofo Andrei Venturini Martins, pois, segundo ele, certo grau de cegueira quanto ao nosso destino é fundamental para vivermos nossa vida.

Mas isso não deve ser um salvo conduto para nos expormos ao perigo da ignorância, pois, a atual maneira de submeter uma nação ou um povo sem fazer nenhum disparo é deixá-los na ignorância.

Para quem não está disposto a pagar pra ver o quão esta perto da morte, então, deve manter distância das grandes AGLOMERAÇÕES, PRAIAS LOTADAS, BARES, FESTAS CLANDESTINAS...

Fiquemos em casa com nossas familias e disfrutemos cada fração de tempo, pois, a fraçao seguinte não nos pertence mais, e tudo pode acontecer!

A vida é o valor supremo que nos foi oferecido gratuitamente, por isso, não podemos desperdiçá-la por nos acharmos imortais.

Valorisêmo-la em sua justa medida pela importância de quem a criou e, pela graça, nos escolheu...

Muitos pensam que, o que nos difere dos animais é a nossa capacidade racional. Unamuno diria que não, pois, para ele a diferença reside na nossa capacidade afetiva ou sentimental.

Talvez seja o sentimento de autopreservação que nos difere dos outros animais, pois, somos capazes de amar, colocar no lugar dos outros, ser solidários, dar a vida por um amigo, ou seja, ter os sentimentos mais nobres, mas também somos capazes das atrocidades mais terriveis.

Mas nada disso importa do ponto de vista da morte, pois, por mais bela que seja nossa vida, Martins nos alerta que, um dia jogar-nos-ão terra sobre a cabeça...
Eis a verdade infalível!

Depois de sabermos tudo isso, estaremos dispostos ainda em arriscar nossas vidas, a dos nos familiares e amigos, simplesmente, porque entre nós existem homens que continuam desafiando e estimulando outros a desafiarem a morte?

Saibam que, esse é e será sempre um desfio, absolutamente, inglório...

Cuidemo-nos... e como disse Charles Bukowski para onde quer que vá a multidão, vá em direção contrária...


Refletido sobre o que aconteceu hoje (11/04/21) na nossa Cidade de Niterói, logo pensei em um artigo que escrevi em 2016 e que está no meu primeiro livro "ENTRETEXTOS" (2017), cujo título é: "RESPONSABILIDADE DE GRUPO: RESPONSABILIDADE GERAL E INDIVIDUAL"

No artigo analiso o homem como sujeito moral que busca sua própria conservação sem ignorar os outros a partir das idéias presentes na obra “Du Contrat Social” de Rousseau.

“Quando o homem deixou o estado de natureza, ele se tornou um ser social, racional e moral. Exatamente por isso, o total dos interesses comuns tem um peso maior do que o total dos interesses particulares [...]

Mas, é um imperativo que a vontade particular de cada cidadão deva ser salvaguardada e respeitada, principalmente, nos casos em que o cidadão atingiu sua maior idade e é capaz de assumir suas responsabilidades [...]

Então, as questões que devemos adicionar a esse debate, são: depois do indivíduo alcançar a maturidade intelectual, pode optar por se tornar um cidadão ético ou não? Pode agir de forma particularizada, priorizando sua individualidade em detrimento do grupo? Como conciliar a vontade particular com a vontade geral? [...]

Analisando os nossos atos e comportamentos, desde as simples ocupações e afazeres do cotidiano, até os mais complexos, que exigem uma análise racional, ético e moral é preciso definir de que maneira devemos examiná-los tendo em conta que, não existe uma forma universal e necessária para examiná-los. [...]

Contrariamente à vontade moral geral, cujo fim último é o bem público [...] a vontade moral particular põe o indivíduo em primeiro plano em relação ao grupo [...] é nesse sentido que se estabelece um conflito existencial entre ambos [...] mas, sabe-se de partida que, a vontade particular não pode tornar a sociedade mais justa, humana, cooperativa [...]

Para ser justa, a vontade particular deve estar em concordância com a vontade geral, buscando o bem comum e não apenas o próprio interesse em detrimento do coletivo [...]

A realização pessoal se dá mediante a colaboração e a participação cooperativa, onde se estabelece um nexo entre a vontade particular e a vontade geral, e não na consolidação de uma vontade particular, moldada pelo interesse egoísta de cada membro de uma sociedade [...]

Assim sendo, a vontade particular não pode superar a vontade geral [...] é uma ignorância imaginar que haverá felicidade entre as pessoas enquanto continuarmos essa busca desenfreada pelo poder e pelo domínio para ver quem comanda e quem obedece [...] a promoção do bem comum deve contemplar o bem particular, mas, nossa civilização está em crise para assimilar esta ideia.

Para que tal aconteça, é fundamental que se aposte na educação pela inteireza do cidadão. Isso significa afastá-lo da secular ignorância, que sempre teve início, pela ignorância de si mesmo e dos outros", E AGORA REALÇADA E ESTIMULADA POR ALGUNS POLITICOS NEGACIONISTAS...

Para ler o artigo na íntegra, clique aqui.
Para adquirir um exemplar do livro, clique aqui: 

QUEM É O HOMEM?




O Homem já foi classificado de várias formas: "Zoon Politikon" Animal Político (Aristóteles); "Contratante Social" (Rousseau); "Caniço Pensante" (Pascal); "Homo Economicus" (manchesterianos); "Homo Sapiens" (Lineu) [...].

Mas, não é nenhum desses homens que me preocupa, mas sim, o "Homem de carne e osso" como diria Unamuno. Aquele que nasce, cresce, come, bebe, joga, dorme, pensa, mas, sobretudo, SOFRE E MORRE, só!

Esse homem que perdeu o medo do seu 'trágico' destino, principalmente, porque perdeu o senso de proteção da sua própria vida e a dos outros...

Esse homem que podemos chamar de "mamífero vertical" bípede (sem pernas), racional (sem cérebro/razão), humano (sem humanidade). Ou seja, "um ser oco e cheio de lixo" como diria Pascal. Esse sim, é motivo de preocupação...

Sejamos mais dignos, pois, Kant já dizia que “o valor do ser humano é a sua dignidade”. Ter dignidade significa: ter qualidade moral que infunde respeito, consciência do próprio valor, honra, autoridade, nobreza, elevação, respeito[...].

São homens desse tipo que estamos procurando como fazia Diógenes (Filósofo da Grécia Antiga) que andava com uma lanterna acesa durante o dia à procura de homens honestos...

Agora, além de procurarmos 'homens honestos' estamos a procura, principalmente, daqueles que queiram preservar a humanidade face a maior ameaça deste século até agora, a COVID-19.

E você, que tipo de homem se tornou? Qual é a cara que você carrega. Clarice Lispector diria que "depois de certo tempo cada um é responsável pela cara que tem". De toda a forma, o homem, como disse o gênio francês, não é nem anjo, nem animal, mas exibe características próprias de cada um...

Então, sejamos todos responsáveis, não só pela cara que carregamos, mas, pelo comprometimento com a raça humana.

Vamos nos proteger e proteger os outros! SEMPRE!

sábado, 3 de abril de 2021

Educação em tempos de pandemia


O modelo educacional eurocêntrico pela qual fomos formados tem como premissa básica, o individualismo, ou seja, a supervalorização do individuo. Desde muito cedo fomos estimulados a vencer sempre, a ser o melhor da turma, a ter as melhores notas, a sermos o centro das atenções. Isso fez com que a convivência com os outros passasse a ser mais competição e menos cooperação.

Aos poucos fomos persuadidos/conduzidos a construir uma ameaça real sobre o planeta, entendida como a tirania do “Eu”, atitudes que hoje são absolutamente normais entre seres humanos, principalmente em tempos de pandemia.    

Nesse sentido a valorização dessa competição estéril, condicionou nossa forma de pensar e agir, ou seja, nós nos colocamos no centro do cosmos, e, expressões como “eu penso”, “eu sou”, “eu tenho”, “eu posso”, “eu quero”, “eu existo” são o reflexo de uma matriz científico-filosófica que espelha claramente o antropocentrismo acéfalo que coloca o individuo no centro do todo o processo de produção de conhecimento, mas, esquece o coletivo, que é, sobretudo, o sustentáculo de todas as relações interpessoais.

Fazemos parte de um sistema em que o “ter” aniquilou o “Ser” e o homem, criatura desnaturada colocou-se no topo da hierarquia dos seres viventes, quando na verdade fazemos parte do mesmo ecossistema global, para qual não existe diferença entre um homem, uma formiga, uma planta [...] mas, o homem desconhece isso. 

Por isso, tornou-se absolutamente complicado para o ser humano esquecer seu ‘eu’ e pensar no outro, ou seja, colocar-se no lugar do outro. Essa educação eurocêntrica pela qual todos passamos, está condenada ao fracasso em todas as dimensões, pois, o modelo não responde mais às necessidades educacionais. Utopias como: igualdade, progresso, respeito, liberdade, solidariedade, fraternidade, empatia (...) patinam sobre possibilidades impossíveis de se concretizarem no cenário atual.

Urge então, uma alternativa educacional inter-e-transpessoal o que implica necessariamente o autoconhecimento, ou seja, a consciência da dimensão espiritual (coletivo) do ser humano na qual a unidade do saber volta-se para o transcendente e não mais para o racionalismo, o mecanicismo e o individualismo, uma vez que, estes apenas conduziram a desconsideração da complexidade e da dimensão transcendente do ser humano.     

Precisamos SER! Precisamos CRER!

sexta-feira, 2 de abril de 2021

A maldição das aglomerações



A atual crise existencial em que vivemos tem reflexos na política, na religião, na moral, na ética e nas infinitas formas com que nós nos relacionamos com os outros seres viventes. Essa crise faz com que nós não sejamos mais autores da nossa própria história, mas, apenas repetidores de padrões exteriores de comportamentos.

As conseqüências já são conhecidas, pois, o Homem atual prefere a comodidade e a aprovação das massas ao protagonismo do ‘Eu’. Esse Homem que esqueceu o seu ‘Eu’ reflete a incapacidade de lidar com o sentimento de vazio que nos invadiu e corrói nossa existência a ponto de querermos fugir de nós mesmos e procurar o amparo das multidões, ou seja, das grandes aglomerações.

As multidões, como se sabe, têm como premissa básica livrar-nos do tédio, da solidão e da angústia, estratégias mais do que suficientes para alimentar nossa tendência a desviarmos de nós mesmos e refugiar, em última instância, na estéril diversão, no jogo, na algazarra das aglomerações, manifestações empíricas das nossas infinitas misérias existenciais.

No decorrer dos últimos tempos e, especialmente, no último ano, fomos obrigados a aprender a conviver com a tensão permanente entre a vida e a morte, o agora e o depois, o sim e o não, a alegria e a tristeza, a harmonia e a desordem (...) paradoxos que só os que estão agonizando numa CTI são capazes de superar, pois, nada além da vida é mais importante.

Perante a luta pela vida, todos os paradoxos dissolvem-se. Mas, apenas aqueles que dão por perdido a vida que não merece ser vivida, a guardarão. Isso significa abrir mão das ilusões e das distrações mundanas, das mais variadas formas de escapismos e das satisfações fugazes desse breve instante que nos fomos convidados a permanecer na terra.

Precisamos urgentemente (re)descobrir esse cenário cada vez mais complexo e desafiador em que cada biografia é feita de lutas que não tem sua origem e destino no palco contingente da nossa telegráfica existência.

Então, aproveitemos essa curta existência e cuidemo-nos uns dos outros!            

 

sexta-feira, 12 de março de 2021

Arlindo Nascimento Rocha - Entrevista ao Jornal Inforpress - Cabo Verde - 2019

Diáspora: Jovem pesquisador cabo-verdiano quer fazer a diferença no mundo académico


Rio de Janeiro, Brasil, 11 Dez (Inforpress) – Chegou ao Brasil aos 38 anos, com o objectivo de “ser alguém” no mundo académico, e, em oito anos, fez uma especialização, um mestrado, deve concluir o doutoramento em 2021 e já publicou dois livros.

Trata-se de Arlindo Nascimento Rocha, 46 anos, santantonense da Ribeira Alta, que a Inforpress encontrou no Rio de Janeiro e que se assume, hoje, como pesquisador na área da Ciência da Religião.

Para além dos dois livros da sua autoria, colaborou numa outra obra, uma colectânea com vários pesquisadores, já publicou nove artigos em revistas académicas e está a trabalhar no seu terceiro livro, uma colectânea de breves ensaios sobre a Antropologia, Filosofia, Sociologia, tudo ligado à religião e que advém das suas pesquisas.

Mas o conto volta atrás, porque quando chegou ao Brasil, em 2012, Arlindo Rocha já tinha feito carreira na docência no Ensino Básico em São Vicente e em Santo Antão e concluído a licenciatura em Filosofia.

À Inforpress, disse que sempre foi um “aluno razoável”, ganhou prémios no Ensino Superior, de mérito na Uni-CV, em 2009, e bolsa de estudo, em 2010, em iniciação à investigação científica.

A vinda ao Brasil, contudo, tem por trás a actual mulher, Pirscila, brasileira, mestre em Filosofia, que conheceu em 2009, numa altura em que esteve no Brasil, não em tarefas académicas, mas ao serviço do teatro cabo-verdiano, como actor do Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo, convidado para o festival Feslip.

Arlindo Rocha lembra que no inicio “não foi nada fácil” no Brasil, já que sempre estudou em universidades particulares, e porque a bolsa não vem logo no início, então havia que custear as primeiras mensalidades, “que não são baratas”.

“Logo no início do mestrado vendi casa que tinha com meu irmão, carro e moto que tinha em São Vicente, ou seja, desfiz de muita coisa porque estava atrás de um sonho e não me arrependo porque que está justificado todo o sacrifício que estou a fazer”, concretizou.

Por isso, disse agradecer a Deus que sempre colocou no seu caminho pessoas que o souberam orientar e abriram as portas, para além, claro, do seu esforço pessoal, até porque na academia, sintetizou, sobretudo em pós-graduação, mestrado e doutoramento, “você vale por aquilo que vale”.

Arlindo Rocha ocupa-se ainda de divulgar tudo o que aprende na sala de aula, através das suas publicações em livros, em artigos e postagens nas redes sociais, onde possui quatro blogues.

No primeiro fala de Blase Pascal, que é o autor que investiga, num outro aborda temas da Ciência da Religião, Filosofia da Religião e Antropologia da Religião, num terceiro sobre vários temas ligados à Educação e ainda um quarto, que criou nos últimos meses, que designa de Oficina Académica, em que dá dicas para quem quer fazer um trabalho académico.

Questionado sobre como arranja tempo para se desmultiplicar nas múltiplas tarefas, o entrevistado da Inforpress respondeu que, na qualidade de bolsista a 100 por cento (%) da CAPS, instituição brasileira que fomenta e financia bolsas para quem quiser ingressar no ensino na pós-graduação, é pago para pesquisar e que tem que dar feedback à entidade financiadora.

Porque diz sentir-se, hoje, capacitado para trabalhar “em qualquer nível do sector da educação”, Arlindo Rocha sustentou que a intenção é regressar a Cabo Verde após a conclusão do doutoramento, porque a vontade e a necessidade apontam nesse sentido.

“Mas ninguém consegue prever o futuro, mas o desejo é esse até porque a minha mulher, que sempre me ajudou e me dá uma certa protecção, gosta muito de Cabo Verde”, precisou.

E o bichinho do teatro, questionamos: “Não morreu, até porque quando cheguei ao Brasil quis muito fazer teatro, tentei mas não deu certo, por isso o bichinho está adormecido, porque estabeleci como prioridade a vida académica”.

“Mas chegando a Cabo Verde, vou ter o meu retorno ao teatro, embora daqui acompanho o trabalho pessoal de São Vicente, do João Branco e a sua equipa, que aproveito para felicitar pelos 25 anos do Mindelact”, concluiu.


AA/JMV
Inforpress/Fim

Arlindo Nascimento Rocha - Entrevista à Uni-CV - Cabo Verde - 2020

Ex-estudante da FACHA dá entrevista a Uni-CV para partilhar o seu percusro no Brasil


A Universidade de Cabo Verde sempre trabalha em prol da valorização dos seus estudantes e ex-estudantes. Neste sentido, publicamos uma entrevista realizada junto com o Arlindo Nascimento Rocha, professor, pesquisador e escritor, que vive no Brasil desde 2012, onde desenvolve as suas atividades académicas e profissionais. Como ex-estudante da Universidade de Cabo Verde, partilhou conosco o seu percurso e algumas das suas ideias.

Arlindo, podes te apresentar brevemente para os nossos leitores?

O meu nome é Arlindo Nascimento Rocha, sou professor, pesquisador e escritor. A minha primeira formação académica foi no Instituto Pedagógico do Mindelo (1997/2000) e, posteriormente, na Universidade de Cabo Verde (2006/2011). Profissionalmente, iniciei as minhas atividades em 2001 como docente do Ensino Básico Integrado (EBI) no Concelho do Paul, ilha de Santo Antão, e lá permaneci entre os anos 2001 e 2005.

Além da atividade de docência, fui gestor do Pólo Educativo no 3 do Paul (Pontinha de Janela) e Supervisor do Curso de Formação de Professores a Distância do IPM. Em 2006, fui transferido para a Cidade do Mindelo e continuei as minhas funções no Pólo Educativo no 17 de São Vicente (São Pedro) e fui um dos primeiros a participar ativamente no processo da revisão curricular como docente pré-experimentador na implementação da Abordagem Por Competências (APC) nos três primeiros anos do EBI.

Atualmente vivo no Brasil (desde 2012), onde construí família e tenho vindo a desenvolver os meus estudos/pesquisas ao nível de Pós-graduação em várias universidades do país que me acolheu.

Qual foi o teu percurso académico, em particular na Uni-CV?

O meu percurso académico na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV) – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas - Pólo do Mindelo, teve início em 2006, no Curso de Licenciatura em Filosofia para Docência, percurso este que foi feito em paralelo com a minha atividade de docência no EBI.

Fui um aluno aplicado, e, pelos resultados obtidos, em 2008 fui distinguido com o Prémio de Mérito pela Uni-CV. Em 2010, fui selecionado para participar do Programa de Iniciação Científica que ocorreu na Universidade Federal de Goiás (UFG) – Brasil, durante dois meses, onde desenvolvi o meu projeto de pesquisa que serviu de base para a elaboração da minha monografia de final de curso, concluído em 2011.

Tens publicado vários artigos e produções académicas. Podes nos explicar melhor como foram desenvolvidas estas oportunidades e em que área foram focadas?

Cheguei ao Brasil em 2012, e dediquei-me quase que exclusivamente à academia. Fui aluno “especial” do Curso de Pós-graduação em Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) durante dois semestres; fiz uma Pós-graduação (Lato Sensu), Especialização em Administração, Supervisão e Orientação Educacional e Pedagógica na Universidade Católica de Petrópolis (UCP), concluí o Mestrado em 2016 e em fevereiro de 2021 farei minha defesa de Doutorado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

A maior parte das minhas pesquisas e publicações estão diretamente ligadas às minhas atividades como aluno e pesquisador de Pós-graduação, Mestrado e Doutorado em Ciência da Religião pela PUC-SP e bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), uma fundação vinculada ao Ministério da Educação do Brasil.

Até o presente momento, já publiquei dez artigos em vários periódicos brasileiros, entre os quais, destaco: Revista Parlamento e Sociedade: Escola do Parlamento da Câmara Municipal de São Paulo; Revista Diversidade Religiosa PPGCR-UFPB; Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento; Revista Brasileira de Filosofia da Religião; Revista Argumentos: Departamento de Ciências Sociais, Unimontes - MG; Revista Último Andar: Cadernos de Pesquisa em Ciência da Religião); Revista Vértices: Departamento de Letras Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

A maior parte dos artigos foram elaborados a partir da minha dissertação de Mestrado e os outros ligados a temas relacionados com Filosofia e Ciência da Religião, Sociologia, Antropologia, Ética, Ensino Religioso, etc.

Além desses artigos já publiquei três obras: uma pela Editora Pod – Rio de Janeiro; e duas pela Editora Viseu – Maringá (para mais informações, cf. nota no final da entrevista).

Além dessas publicações, sou colaborador do Mindel Insite (Cabo Verde) e mantenho os seguintes blogs: O Caniço Pensante; Educação, Cultura e Cidadania; Ciência(s) da(s) Religião(ões) e Oficina Académica, sendo este último, um espaço virtual para apoiar pesquisadores iniciantes com dicas e sugestões de pesquisas.

As tuas atividades profissionais do momento são alinhadas com a tua experiência universitária, como estudante e pesquisador?

Totalmente! Pois, sou pesquisador/bolsista CAPES (integral), e considero que as minhas atividades estão todas embasadas na minha experiência como migrante, estudante (africano) em um país onde o acesso a Pós-graduação (com bolsa) de alunos nacionais (brasileiros) é cada vez mais difícil.

Graças a minha experiência profissional/académica em Cabo Verde e nas diversas universidades brasileiras, acredito que estou preparado para qualquer desafio em termos académicos desde o Ensino Básico a Pós-graduação que possa surgir, tanto no Brasil, assim como em Cabo Verde, particularmente na Uni-CV, universidade que abriu-me as portas para o mundo académico e para o conhecimento.

Atualmente estou trabalhando em uma nova obra (a quarta) que será publicada no segundo semestre de 2021. Mas, o meu objetivo a médio prazo é fazer com que todas possam chegar a Cabo Verde por um preço acessível, pois as solicitações têm sido várias, mas as dificuldades logísticas são gigantescas...

Dirias que a tua experiência na Uni-CV foi benéfica para iniciar a tua carreira profissional no Brasil? De que maneira?

A experiência adquirida na Uni-CV foi um divisor de águas na minha vida académica posterior, pois, com a possibilidade que tive de participar do Programa de Iniciação Científica no Brasil, pude constatar o quão os nossos professores, em meio às dificuldades inerentes a uma universidade ainda em fase de implementação, esforçavam-se para levar os conteúdos da melhor forma aos alunos.

Além da experiência académica, foi uma experiência humanística, pois pude perceber que toda e qualquer dificuldade é superável, desde que os objetivos sejam claros e bem definidos. Da superação cotidiana dos alunos, professores e funcionários, trouxe comigo a tenacidade e a pujança que quem não se deixa desanimar, mesmo quando dar um passo atrás for necessário...

Que tipo de relações manténs com Cabo Verde, e com a Uni-CV em particular?

Mantenho uma relação muito boa, pois, apesar de estar fora de Cabo Verde desde 2012 e de não ter voltado desde então, não afetou em nada, pois atualmente é possível seguir tudo e todos quase que em tempo real, o que de certa forma traz certo conforto, apesar da inevitável saudade.

Após o término do meu doutorado (2021), gostaria muito de poder voltar a dar a minha contribuição como professor/pesquisador, pois, seria a realização e a retomada de um percurso iniciado há exatamente 20 anos.

Em relação à Uni-CV, tenho acompanhado pelas mídias sociais o seu desenvolvimento e engajamento cada vez mais em atividades de ensino, pesquisa e extensão, o que me alegra muito, pois sei que o caminho é longo, mas a nossa universidade está no bom caminho.

Acompanho e tenho contato com vários ex-colegas e docentes, e sei do trabalho hercúleo que estes têm vindo a desenvolver para que a Uni-CV possa, um dia, estar entre as universidades de referência a nível internacional.

A Rede Alumni da Uni-CV tem por objetivo valorizar o percurso dos ex-estudantes da instituição. O que achas deste projeto?

Penso ser de extrema importância, pois o acompanhamento e a valorização dos ex-estudantes só pode trazer benefícios para ambas as partes. É notório que após a conclusão dos estudos na Uni-CV, muitos têm seguido percursos vários, e, em certos casos, dos que continuaram ao nível de Pós-graduação dentro ou fora da universidade e do país, alguns retornam à “casa” para dar sua contribuição.

Por outro lado, ao acompanhar o percurso dos ex-alunos (as), a Universidade tem nas suas mãos um tipo de ‘termômetro’, ou seja, um ‘instrumento’ que, certamente, serve para mensurar (avaliar) o impacto social, cultural, académico/profissional dos seus regressos; (re)avaliar as suas práticas em função dos novos desafios académicos e sociais; (re)adaptar as novas demandas do mercado empregatício; (re)definir as suas práticas de ensino e pesquisa, etc. Todos esses fatores, certamente, contribuirão para elevar a posição da Uni-CV nos rankings das universidades bem classificadas.

É um projeto que, além de valorizar os ex-estudantes, também deve ter como meta estimular outros(as) alunos(as) para que possam sentir comprometidos(as) não só a concluir o curso com sucesso, mas, que possam engajar cada vez mais em pesquisas posteriores, visando fortalecer e dar maior visibilidade não só à Uni-CV, mas à academia cabo-verdiana como um todo. Nesse sentido, todos sairão a ganhar, pois, não existe ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino...

Como vês e imaginas uma relação ideal da Uni-CV com os seus ex-estudantes, em geral e para ti em particular?

Acredito que deve ser uma relação de “mão dupla”. Ambos têm as suas responsabilidades e limites e todos devem estar conscientes dos seus papeis em prol de uma universidade aberta, democrática, acolhedora, engajada, e, sobretudo, com mais qualidade de ensino e mais investimento (formação, pesquisa e extensão).

Uma vez que a Universidade dispõe-se a acompanhar os seus egressos, estes também devem estar atentos a tudo o que acontece dentro e fora da mesma, atuando não como ‘fiscalizadores(as)’, mas, como cidadãos(ães) atentos(as) às boas práticas que precisam ser estimuladas e mantidas e as não tão boas que precisam ser revistas e melhoradas.

Acredito que, só assim, poderemos construir e manter uma boa relação, e desta forma, contribuir para garantir que a Universidade, os(as) seus(as) alunos(as) e ex-alunos(as) tenham o reconhecimento não só nacional, mas, internacionalmente, atraindo assim, novos alunos, novos quadros e novos projetos...

Algumas ideias para contribuir e valorizar a Uni-CV através do teu percurso?

Acredito que a Uni-CV está fazendo um bom percurso: afinal, acabou de completar em novembro os seus primeiros 14 anos de existência. É ainda uma “adolescente” em comparação com outras universidades centenárias. Naturalmente, as dificuldades são muitas, mas, nada que não possa ser superado com tempo, investimento, autonomia, vontade política e dedicação a causa do Ensino Superior.

Acredito que a Uni-CV deva investir na formação continuada e valorização dos seus quadros, (re)qualificação dos seus espaços (principalmente as bibliotecas e salas multimédias); estabelecer ou melhorar os convénios com universidades e pesquisadores de outros países; fomentar nos seus alunos(as) o gosto pela leitura/pesquisa; criar um fundo (monetário) e estimular os seus(as) professores(as)/pesquisadores(as) e ex-alunos(as) para que possam ter as suas pesquisas publicadas em formato impresso (nesse aspeto seria interessante investir em uma gráfica interna, exemplo de muitas universidades brasileiras); estimular e possibilitar a participação da comunidade académica em intercâmbios, congressos, eventos/grupos multidisciplinares de pesquisa nacionais e internacionais...

Acredito que muitas dessas sugestões já estão em curso, mas, nunca é demais rever e manter as boas práticas, pois, o intuito é melhorar sempre...

Para aceder às publicações do Arlindo, entre nos links a seguir:

- Entretextos: coletânea de textos acadêmicos (2017), que resultou da sistematização de vários temas pesquisados na PUC-Rio, ligados à Filosofia Política, Religião, Ciência, Cultura e Linguagem, etc.

- Paradoxos da condição Humana: grandeza e miséria como paradoxo fundamental em Blaise Pascal (2019), uma adaptação da dissertação de Mestrado do Arlindo apresentada em 2016, sob a orientação do professor Doutor Luiz Felipe Pondé. Nela, o autor analisa conceção paradoxal da natureza humana, presente na filosofia pascaliana, em sua dimensão existencial como ser contraditório, enfatizando a relação dialética entre grandeza e miséria como paradoxo fundamental em Blaise Pascal.

- Religar-se: coletânea de breves ensaios (2020), uma obra que visa o estudo e a compreensão do ‘fenómeno’ religioso como parte do ‘fenómeno’ humano a partir do contexto sociológico, antropológico, filosófico, teológico e histórico que também resultou das minhas pesquisas ao longo do mestrado e doutorado.

As obras também estão disponíveis em formato impresso e digital nas lojas das editoras e em várias plataformas digitais.